Metaverso e saúde mental em jogo

Lançado em 2004, o Facebook é, hoje, a maior rede social do mundo. Apenas no Brasil, são 130 milhões de pessoas que utilizam a plataforma. Além disso, mundialmente, quase 3 bilhões de usuários acessam o Facebook todos os dias. Embora seja relativamente jovem, a empresa já atingiu um nível de influência e alcance que poucas companhias já conquistaram. No último trimestre de 2020, a receita da instituição foi de 28 bilhões de dólares e, no final de 2021, seu mercado de capitalização era de 950 bilhões de dólares. 

Contudo, a empresa também está inserida em alguns imbróglios, como escândalos envolvendo a privacidade e segurança dos usuários. No mais, o Facebook também enfrenta uma possível estagnação no crescimento, já que esgotou a maioria dos investidores globais. Anteriormente, uma das estratégias de fortalecimento da companhia era a aquisição de outras marcas. Em 2012, comprou o Instagram por 1 bilhão de dólares. Dois anos depois, em 2014, foi a vez do Whatsapp ser arrematado pelo conglomerado por 19 bilhões de dólares. No entanto, os problemas sociais e políticos dos últimos anos tornaram essa técnica inviável. 

Por isso, Mark Zuckerberg, CEO e co-fundador do Facebook, anunciou uma novidade empresarial. Primeiramente, alterou o nome do negócio para Meta e revelou que investirá 10 bilhões de dólares iniciais para a criação de um metaverso. Dessa forma, o metaverso seria um universo online que, aliando realidade virtual com inteligência aumentada, proporciona ao usuário a possibilidade de interagir com outras pessoas. O óculos do futuro, aparelho de realidade virtual, é um dos dispositivos que viabilizam a visão de Zuckerberg. Nele, será possível ir a shows, bancos, supermercados, parques: tudo sem precisar mover um músculo. 

No entanto, alguns especialistas estão preocupados que a empreitada possa contribuir para aumentar problemas já existentes. A saúde mental dos usuários, por exemplo, pode ficar seriamente abalada com a tecnologia. Isso porque, assim como as redes sociais, o metaverso causa dependência, além de prejudicar a autoimagem, autoestima e até os relacionamentos. Os meios digitais são de extrema importância para encurtar distâncias e facilitar muitos aspectos da vida da população, mas é preciso cuidado e critério no uso desenfreado dessas ferramentas.

A ascensão da tecnologia blockchain também tem um grande impacto no comportamento das pessoas. O sistema permite a realização de inúmeros feitos que há alguns anos seriam impensáveis: a utilização de moedas digitais (criptomoedas), a compra e venda de tokens não fungíveis (NFTs) e até a possibilidade de estar em outro país sem sair de casa, apenas utilizando inteligência artificial. Embora pareça um mundo de possibilidades maravilhosas, casos de ansiedade e insegurança podem vir à tona, em virtude das constantes mudanças do setor. 

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Como a nova tecnologia funcionará?

De maneira geral, o metaverso é uma experiência híbrida entre o mundo real e o virtual. Assim, se trata de uma união entre o mundo 3D, realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR). As principais ferramentas utilizadas para viabilizá-lo serão os óculos de realidade aumentada, fones de ouvido de realidade virtual e aplicativos de smartphone.

Nessa plataforma, o internauta se encontrará com colegas, por meio de avatares, criarão novos conteúdos, além de poderem trabalhar, estudar e confraternizar. Na realidade, não haverá nada que não possa ser realizado no metaverso: o usuário poderá até comprar mansões de milhões de dólares. 

Em termos práticos, você poderá ir a um museu em Paris, mesmo sem colocar um pé para fora do Brasil. Com a realidade virtual e a realidade aumentada, o indivíduo deixará de apenas conferir uma imagem no celular ou notebook: ele irá, de fato, vivenciar aquela atividade. Após a pandemia, nós percebemos como os dispositivos digitais foram importantes para a comunicação e integralização mundial. Nesse cenário, pessoas de bairros, cidades e até países diferentes conseguiram se reunir e realizar as tarefas. Com o metaverso, tal fato será exponencialmente mais palpável. 

As compras serão feitas com a utilização de criptomoedas. Já os tokens não fungíveis (NFTs) são a primeira escolha para aqueles que querem monetizar seus feitos no ambiente digital. Com eles, o usuário pode vender peças de arte digital, como vídeos, imagens e músicas, mas também outros itens, como imóveis virtuais. Para compreender o metaverso, também é importante conhecer o termo “gêmeo digital”, uma variante de um objeto real transferida para o mundo virtual. Tendo isso em vista, no metaverso tudo é feito através de representações, que podem parecer ou não com a realidade.  

Novas profissões surgirão e algumas que já existem ficarão mais requisitadas. O desenvolvedor de ecossistemas, por exemplo, como o nome antecipa, será encarregado de construir cada ecossistema do metaverso. Sua importância se deve à complexidade dos universos virtuais: vários detalhes precisam ser pensados para que todas as funções operem corretamente. A facilidade em hackear e roubar dados na web também abre caminho para uma maior necessidade de especialistas em cibersegurança. Esses profissionais impedirão ataques, garantindo que leis e protocolos sejam cumpridos à risca. 

Os impactos negativos do metaverso

A discussão acerca de saúde mental e redes sociais não é nova. Desse modo, com a forte presença dos usuários no ambiente virtual, torna-se pertinente os questionamentos sobre até onde isso pode aumentar casos de depressão, ansiedade ou estresse. Além disso, é comum vermos pessoas mais conectadas aos celulares do que ao mundo à sua volta, e esse fato pode ser amplificado pelo metaverso. Segundo um estudo realizado pela Universidade Loyola Andalucía, as mídias sociais influenciam ou já influenciaram na autoimagem de 95% dos participantes da pesquisa. Ou seja, as experiências no cenário virtual trazem consequências para o mundo real.

No mais, ficar longos períodos de tempo na frente das telas é um hábito extremamente prejudicial, especialmente para os mais jovens. Isso porque pode afetar a rotina, o humor, o sono, a alimentação e os relacionamentos. O excesso de exposição às telas é prejudicial aos olhos, então o uso de óculos, que ficarão ainda mais próximos do globo ocular, pode afetar substancialmente este órgão. O sedentarismo e a obesidade também são agravantes, visto que as pessoas ficarão horas sentadas no sofá. Obviamente, o universo virtual pode parecer muito mais atraente para algumas pessoas do que ir à uma academia, andar de bicicleta ou correr.  

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Existe, ademais, a questão da segurança e privacidade dos usuários, já que não está claro como o Meta se protegerá de golpistas e fraudadores. Igualmente, a tecnologia não tem uma política para salvaguardar crianças e adolescentes, ainda mais vulneráveis por estarem em fase de formação, física e psicossocial. A partir de janeiro de 2022, “o vício em jogos eletrônicos” entrou na lista de transtornos mentais da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a organização, os viciados dão prioridade aos jogos em detrimento de outros interesses da vida, como alimentação, trabalho e estudos. 

As inovações do metaverso

Apesar das preocupações que cercam a chegada do metaverso, é inegável que o seu lançamento será uma grande inovação na vida das pessoas. Aliás, aliado com a difusão da tecnologia 5G, sistema de telefonia móvel mais rápido na transmissão de dados, o universo de Zuckerberg contribuirá para facilitar diversas tarefas diárias, além de aumentar a produtividade em vários âmbitos da economia. Contudo, o quinto estágio da tecnologia de dados móveis terá menos abrangência em áreas remotas. No Brasil, chega em 2022, porém a previsão é que atinja todo o território apenas em 2028. 

Uma plataforma virtual totalmente imersiva há muitos anos figura no sonho dos indivíduos. Inclusive, a base para a criação do conceito do metaverso surgiu em 1992, com o livro de ficção científica “Snow Crash”, do autor norte-americano Neal Stephenson. No mundo imaginado pelo escritor, denominado de metaverso, os usuários viviam em um ambiente virtual em que podiam socializar, gastar seu dinheiro e planejar esquemas. Enquanto isso, no plano real, a vida estava um caos. Claramente, os coelhos brancos iriam preferir o país das maravilhas a uma experiência de pobreza, monotonia, desigualdade social e empregos mal remunerados.  

Mas a ideia não ficou apenas em nível ficcional. Em 2014, o cientista de dados Dean Eckles revelou que todos os novos gerentes do produtos do Facebook eram obrigados a ler o livro. Desde então, Zuckerberg vem trabalhando para retirar a parte fantasiosa da obra para criar algo que revolucionará a internet. O metaverso, porém, não é o primeiro investimento nestes moldes a ser idealizado. O jogo Second Life, por exemplo, é uma das alternativas de maior sucesso. Foi criado em 2003 pela empresa Linden Lab, uma plataforma virtual 3D, em que os jogadores ganham avatares de socializam com outros usuários. 

A verdade é que o metaverso já é uma realidade, e sua implementação será responsável por alterar drasticamente o modo de vida da sociedade. As conexões interpessoais serão modificadas, a economia mudará drasticamente, os estudos, o trabalho, enfim, diversos âmbitos serão impactados pela tecnologia. Imagine a possibilidade de realizar uma reunião remota, mas ter a sensação de estar no mesmo lugar que os seus colegas. O mesmo vale para aulas, shows, viagens e tudo o que a imaginação desejar. Ainda não sabemos muito sobre a tecnologia, mas é inegável que ela está abalando as atuais estruturas globais.

Considere entender mais sobre como se sente usando as diversas plataformas digitais e quais destas te instigam para um conhecimento, entretenimento e relações interpessoais mais positivas e outras que apenas te distraem de você próprio e de seus valores. 

Caso tenha se interessado por ter mais reflexão e crítica quanto ao uso de tecnologia acompanhe o Portal da Mente e nossa editoria do blog para tornar mais humano nosso futuro digital.

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