Não é fácil desvincular alguns sentimentos que nos tornam impotentes com relação às ações que tomamos. Muitos deles, como é o caso da inveja, nascem e se desenvolvem antes que o indivíduo note ou consiga evitar. O fato é que todos nós em algum momento da vida já sentimos inveja de algo ou alguém, mesmo que involuntariamente.
Alguns chamam esse sentimento de “inveja boa”, como uma forma de amenizar o peso negativo que ele desperta. Porém, a inveja não tem classificação. Ela apenas funciona como um mecanismo de defesa para se proteger de mágoas passadas e feridas abertas. Acentuando em algumas pessoas a sensação de fracasso e até mesmo despertando vontades que não são próprias.
Seu nascimento costuma ser ainda na infância/juventude, despertando um sentimento de impotência e incapacidade para realizar certas coisas. Algumas limitações acabam traumatizando esse jovem que, ao alcançar a vida adulta, se depara com a realidade de outras pessoas, que a seus olhos parecem perfeitas.
Neste cenário, as redes sociais servem como uma janela onde as vidas ali expostas são completamente felizes e perfeitas, o que bate de frente com a realidade de milhares de pessoas. Dessa forma, “o feed do vizinho” acaba sempre parecendo muito mais bonito e interessante do que o seu. Continue lendo o artigo e conheça mais profundamente os limites da inveja nas redes.
A inveja nas redes sociais
A beleza é sempre impecável nas redes sociais. Por lá não há espaço para erros ou fragilidades e expor esse lado é algo impensável. Quando isto acontece é para “compartilhar” o vencimento do sofrimento, ou mesmo, como forma de dizer sobre como superou aquela dificuldade.
Um estudo feito com 16.750 pessoas de 18 países, divididas igualmente entre homens e mulheres acima de 16 anos, mostrou que 57% dos participantes acham que seus seguidores nas redes têm uma vida melhor do que eles; e 42% deles ficam com inveja quando veem que um amigo tem mais curtidas ou comentários do que eles. Portanto, você não está sozinho.
Manifestar um sentimento de inveja é algo vergonhoso para grande parte das pessoas, que preferem manter suas reações e sentimentos no anonimato, apenas atuando como um voyeur nas redes. O voyeurismo digital acaba por stalkear todos e achar que ali passivo, não será descoberto o que pensa, ou como se sente.
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A rolagem do feed e seu imediatismo
Centenas de atualizações por segundo e a mente começa a funcionar no mesmo ritmo. O feed das redes sociais entrega centenas de conteúdos novos por dia e com isso contribui para a crescente necessidade de novidades. Como um peso extra, as redes oferecem a opção de busca, que entrega outras centenas de informações, são consumidas em tempo recorde e processadas em um ritmo frenético.
A celebridade em alta, o casal que se separou, o reality que está entre os assuntos mais comentados. Uma verdadeira vitrine que expõe vidas e realidades diferentes, mas que em sua maioria traduzem as mesmas mensagens de felicidade e beleza que tantos almejam. Quantas vezes você atualiza seu feed por dia? Você fica frustrado quando percebe que tem consumido muita coisa parecida, pois necessita de novidade?
A sensação de entrega imediata das redes sociais também alimenta essa sensação de estar atualizado com a vida dos outros, como se soubesse de tudo sobre todos. Estar fora dessa relação de consumo excessivo é visto como um hábito antiquado, desatualizado, o que acaba marginalizando quem não se mantém neste intenso fluxo.
Segundo pesquisa divulgada pela Kaspersky Lab – empresa russa de cibersegurança – 49% dos brasileiros publicam suas informações nas redes. Além disso, a pesquisa indicou que 66% compartilham fotos e vídeos de seus filhos e 45% compartilham vídeos confidentes e fotos de outras pessoas.
Todos estão em busca dos seus 5 minutos de fama, ou alcançar centenas de views e ganhar muito mais engajamento. Neste cenário a escolha do conteúdo divulgado segue as temperaturas das redes sociais, mas em sua grande maioria, filhotinhos e bebês ainda estão ranqueados como os mais engajados e compartilhados, o que muitas vezes modifica e dita os conteúdos replicados.
A negatividade nas redes
De acordo com um estudo feito em 2017, o Instagram se mostrou a rede social que mais impacta a saúde mental dos jovens. A alta exposição, somada ao sentimento constante de comparação nesta grande vitrine social, se torna uma verdadeira bomba relógio nas mãos desses jovens.
Esses ambientes tornam-se tóxicos, despertando instabilidades emocionais e acentuando distúrbios como a ansiedade e a depressão, também piora do relacionamento com o próprio corpo e com a comida, que já alcançam números bem emergentes atualmente.
Mas o fato é que as pessoas deixam de perceber a realidade sobre aquilo que acompanham nas redes sociais e acabam vivendo em função da vida alheia. Em muitos casos, o indivíduo acaba perdendo o desejo pela vida como última alternativa, frente a sentimentos como o fracasso, a inveja, a tristeza, a baixa autoestima e tantos outros que no automático do consumo digital a torna refém do mundo online.
Vidas perfeitas não existem, por mais que isso seja reforçado e repostado nas redes sociais. Ninguém tem tudo o que quer e obviamente, ninguém mostra os momentos difíceis que se passam por trás das câmeras.
Mesmo as celebridades mais famosas passam por situações comuns de dificuldade e frustração no seu dia a dia, como pessoas normais. O fato é que estes registros não geram engajamento nas redes e, por isso, se perdem no desconhecido. Alguns, postam com humor suas frustrações, ou mesmo, se abrem em um desabafo. Entretanto, até mesmo quando alertam sobre não estarem bem, podem receber a condenação do seu público conforme a demanda do momento.
Existem ainda os “invejosos assumidos” que destilam seu ódio como haters, com agressividade e projeção descontam nas redes sua raiva. Portanto, para além de um cenário de comunicação, o perfil digital, ou avatar daquela pessoa se transforma numa extensão de sua forma de sentir.
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Boas práticas nas redes sociais
Sim, as redes sociais tem um poder de atração muito grande na vida de muitas pessoas, mas é preciso regrar este contato, mantendo limites bem traçados e utilizando seu momento conectado como um período de entretenimento, sem olhar para seu feed com a necessidade de disputa.
Para te ajudar a compreender melhor suas emoções e se desvincular da relação excessiva e nociva que tem com a redes sociais, veja abaixo algumas dicas que podem te ajudar.
O imperfeito
O importante, inicialmente, é diferenciar as duas versões de si mesmo e dosar aquilo que está em excesso publicamente. As vezes aquele dia perfeito na praia registrado nas fotos, veio depois de diversos dias nublados, assim como aquele corpo idealizado, que surgiu depois de uma vida dedicada à preparação física e hábitos alimentares rígidos.
Nada é perfeito e isso não é um problema. A imperfeição precisa ser uma realidade possível e natural na sua vida, para que as comparações não sejam usadas como uma forma de se depreciar.
Utilize as redes a sua favor
Algumas práticas precisam fazer parte da sua rotina de consumo nas redes sociais, pois só com o devido controle você poderá eliminar a dependência e as aflições que esse consumo desperta em você. Que tal utilizar as redes sociais para buscar seu desenvolvimento pessoal e imergir na busca pelo autoconhecimento? Alguns canais no YouTube, podcasts e portais produzem conteúdos muito ricos sobre o assunto e proporcionam momentos de reflexão e autoanalise.
Aproveite para navegar na internet consumindo esses conteúdos valiosos, que cultivam pensamentos bons e ajudam a cuidar da sua saúde mental. Conheça também: Portal da Mente.
Sempre conectado
A necessidade de atenção e a vaidade perante as redes sociais podem estar além do limite. Você já ficou chateado depois de publicar uma foto muito boa e ter poucas ou nenhuma curtida? Também, aguarda comentários, visualizações ou sinais de aprovação externa para validar suas opiniões? Seu valor é medido conforme estas métricas? Muito provavelmente, o uso das redes esteja comprometendo sua saúde mental!
Viva a realidade!
As experiências precisam criar lembranças na sua memória e despertar sentimentos bons, longe das redes, sem se preocupar com o que vão pensar, se vão gostar ou se você vai conseguir novos seguidores com seus posts. Viva a realidade e aproveite cada momento, porque no final das contas, não há curtida que pague cada experiência boa que você pode viver.
Conclusão
As redes sociais podem e devem ser usadas de forma responsável e contida, sem excessos, apenas como entretenimento. A partir do momento em que esse consumo de conteúdo diário passa a se tornar um vício, uma ferramenta de autodepreciação, despertando os piores sentimentos em você, repense todos os seus conceitos e aplique um detox digital.
Se as notificações do celular atraem sua atenção, elimine-as. Busque focar nas suas prioridades e deixe as distrações para trás. Se as redes sociais são uma necessidade muito grande e a dificuldade em desconectar for maior do que imagina, defina horários para este consumo e respeite este período, sem excessos.
O computador também faz parte do seu cotidiano? Procure não acessar as redes sociais por ele, a não ser que essa seja uma necessidade profissional. Não se esqueça, antes de virar CEO ou mesmo “enriquecer” pelo trabalho, será necessário sair da cama e escovar os dentes. Coloque um mantra: início, meio e fim para as tarefas que se propõe e não deixa nada para depois.
Para finalizar este artigo, queremos deixar uma indicação para você, o canal “pronfudaMente” que aborda assuntos que permeiam a saúde mental, traduzindo e compreendendo as aflições da mente, uma fonte poderosa de informações que ainda funciona como uma possibilidade de focar menos no outro e mais em si mesmo.
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