Síndrome do impostor

A falsa imagem perfeita exposta nas redes, onde o pessoal e o profissional estão em perfeito alinhamento, entram em colapso com a realidade de milhões e criam um sentimento de frustração imenso, responsável pelas principais doenças da década.

São tantas e tantas histórias assim todos os dias pelas redes, que o mundo parece entrar em um colapso existencial, onde as pessoas buscam constantemente validações e aplausos por seus atos. Assim como atores cumprindo um papel, nas redes, vidas são comparadas, julgadas, aplaudidas ou anuladas, tudo em função da perigosa aceitação.

Preconceitos criam crenças limitantes e sociais, marginalizando atitudes e desejos, como uma roupa que não serve e precisa ser descartada. Mudanças no comportamento, sonhos adiados e fugas em momentos importantes e cruciais, para dar ouvidos a uma voz que diz o quanto se é incapaz e está se enganando.

O pensamento de autosabotagem retorna frequentemente e os compromissos vão se enfileirando, deixando de ser prioridades. Chegasse ao fundo do poço, onde a vergonha, o medo e a insegurança são as únicas aliadas. A vida do outro é a principal régua, o termômetro de nossas ações e frustrações. Bem vinda a síndrome do impostor!

“Sou uma farsa. 

Com certeza foi sorte.

Não fiz nada de tão incrível assim.

Minha mente frequentemente tenta me sabotar e tenho medo de receber grandes responsabilidades, porque sei que não vou conseguir supri-las.
O ambiente no trabalho já não é mais o mesmo e sinto que estou ficando para trás com relação aos outros, meu desempenho tem caído drasticamente e não sei mais o que fazer para compensar minhas falhas.

Meu despertador tem agora o hábito de adiar meus horários e eu sempre preciso arrumar desculpas para meus cronogramas apertados e minha rotina fora dos eixos. Estou falhando novamente”

Síndrome do Impostor e as redes sociais

Pensamentos sabotadores e inseguros passam de forma intensa na mente de milhares de pessoas todos os dias, indicando a síndrome do impostor como um fenômeno real e emergente. Estima-se que 70% das pessoas já tiveram uma experiência de frustração e autosabotagem, apontando para uma desordem mental, indicio de traços de depressão e ansiedade.

Mas se esse transtorno já é bastante debatido em um contexto acadêmico e cientifico, nas redes sociais ele é relativamente novo. O sentimento de incapacidade, sentir-se como uma farsa, se faz presente nesta realidade altamente conectada, onde todos seguem suas vidas perfeitas, mas não admitem fragilidades ou incapacidades. Neste cenário, quem não alcança as expectativas se frustra e sucumbe a autodepreciação.

Influenciadoras e celebridades só começaram a falar sobre a síndrome do impostor recentemente, abrindo discussões acaloradas sobre essa instabilidade e como ela afeta e compromete as relações sociais. Do mesmo modo, vemos as próprias redes sociais contribuírem para o aumento na insegurança a na autosabotagem, tomando como base a realidade de outras pessoas, sendo elas verídicas ou não.

Síndrome do Impostor: eu me identifico?

Pesquisadores definem a síndrome do impostor como uma experiência individual baseada na falsa percepção de si mesmo e de sua capacidade intelectual, se assumindo como uma fraude e cultivando ações e reações sabotadoras, de forma a evitar frustrações e sofrimento. O individuo constrói, dentro da sua cabeça, uma ideia fixa de sua incompetência e insuficiência.

É claro que todos estamos propensos a sentimentos de sabotagem, mas quando essas crenças começam a limitar suas ações, seu desenvolvimento e passam a controlar suas escolhas, o sentido de alerta precisa ser acionado, traçando ações para eliminar esse transtorno. Veja abaixo situações que indicam a síndrome e que pedem a sua atenção.

  1. Cancelo compromisso em cima da hora e frequentemente abandono meus projetos pela metade. Tenho medo de assumir responsabilidades e me comprometer com prazos e metas. Não acredito que possa ser bom o suficiente, ou seja capaz de aguentar fracassar.
  2. Sinto que não mereço estar onde estou e o sucesso é apenas um momento de sorte na minha vida, logo vai passar. Por isso, restrinjo meu contato com pessoas que podem impulsionar meu sucesso. Não faço amizades, pois sempre foco no “networking”. 
  3. Não acredito no meu potencial e frequentemente me deprecio.
  4. Não consigo enxergar minhas próprias qualidades e vejo a realização ideal e o sucesso apenas na vida dos outros. Estou sempre em busca da perfeição e de retornos positivos para validar minha aceitação. Busco nas redes sociais as métricas de validação. Sofro muito quando não sou elogiado, ou percebo que as pessoas não curtiram, comentaram ou compartilharam meus conteúdos.

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Autosabotagem

Pode ser definida como um conjunto de ações destrutivas, que praticamos contra nós mesmos. Essa reação pode manifestar-se na vida pessoal ou profissional, afetando seu desenvolvimento, as relações sociais e sua vida de modo geral. Embora seja comum, costuma passar despercebido pela maioria das pessoas.

A autosabotagem ocorre porque nosso inconsciente se comporta de maneira diversa aos desejos e necessidades reais do individuo, criando pensamentos negativos e acarretando ações negativas, formando um ciclo da autosabotagem. Para muitos a autonomia e o sucesso, somados a liberdade e as responsabilidades cotidianas, despertam a sensação de medo e insegurança.

Estudos apontam que a autosabotagem  tem origem ainda na infância ou adolescência, estando relacionada a traços da personalidade, o convívio social, o meio em que crescemos, entre outros fatores. Cada pessoa reage a situações de um modo diferente, por isso nem sempre o campo psicológico afeta tanto alguns, porém pessoas mais sensíveis se mostram vulneráveis a fatores externos, como a comunicação, por exemplo.

Saúde mental e a síndrome do impostor

Tentar agradar em todos os momentos, se esforçar para alcançar a aprovação de todos e para isso até aceitar passar por situações desconfortáveis e humilhantes. A pessoas com síndrome do impostor passa por longos períodos de instabilidade e muito estresse, apresentando picos de ansiedade por acreditar que a qualquer momento poderá ser substituída ou desmarcada. Por isso, muitas pessoas com essa síndrome acabam adquirindo outros transtornos, como a ansiedade e a depressão.

Ambientes com um clima altamente competitivo, pressão no contexto familiar, situações de comparação e julgamentos podem desencadear distúrbios que tendem a acompanhar a síndrome do impostor. Pessoas com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, por exemplo, apresentam reações autosabotadoras  e autocriticas de forma patológica, com visões distorcidas sobre si mesmo.

Preciso de ajuda…

Fique um momento a sós com seus pensamentos e sentimentos, em silêncio apenas ouvindo sua própria respiração, imersa. Se desconecte das redes sociais e escolha um ambiente que te faça bem. Fique por lá um tempo apenas renovando as energias.

Crie pequenas metas diárias simples e reais as suas possibilidades, como ler 3 páginas de um livro, fazer uma caminhada de 5 minutos, responder uma quantidade X de e-mails, por exemplo. Não queira usar todas as plataformas possíveis. Escolha apenas as necessárias e retire as notificações do seu celular.

Comece o livro que tanto queria, cozinhe para você, escute uma música boa, assista um filme, dance, esse é o seu momento. Não se conforte apenas como uma forma de entrar no padrão. Antes de seguir o “fluxo” procure entender qual é a sua vontade. 

Se olhe com mais amor. Use seu perfume favorito, coloque uma roupa bonita, faça uma maquiagem, sorria para quem você se tornou. Incorpore aquela pitada de alegria para seu dia. Não se abandone lançado no sofá e fingindo por “figurinhas” nas redes sociais que está feliz. Antes de “parecer” feliz, ou contente, se permita sentir angústia ou aceitar que precisa para ponderar e compreender qual rumo gostaria para sua vida, mesmo que seja para as próximas 24 horas.

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Rotina da auto reflexão

Desconecte-se do desnecessário;

Antes de assumir mil sonhos e projetos procure delimitar o que faz parte da sua vida;

Não deseje um corpo que não é o seu. Não olhe que sua vida não tem valor, pois precisa “estar” aos tantos anos bem sucedido (a);

Envolva-se com as pessoas por afinidade e não por interesse. Seja íntegro com suas opiniões e usa a medida da “honestidade consigo próprio”;

Talvez aquela foto que queira naquele restaurante das Maldivas, ou sair lacrando alguma opinião, faça apenas parte do impostor que te habita. Dê férias ao seu impostor e comece a se dar conta de onde na sua trajetória você se deixou pelo caminho;

Não tenha preguiça de reconhecer suas vontades verdadeiras, ou genuínas, somente com postura poderá abrir mão das farsas que inventou para si;

Coragem e persistência para ser, ou invés de ser um “espelho” do que esperam de você.

Conclusão

Realize atividades que tenham a capacidade de aliviar o seu estresse e as crises de ansiedade, melhorando também sua autoestima, como exercícios físicos, passeios com a família, meditação e outras atividades que lhe tragam prazer. Busque tirar momentos para uma autoanalise real e objetiva sobre suas qualidades e limitações. Ninguém é perfeito, estamos em constante evolução, melhorando sempre um pouco mais, então busque o seu melhor todos os dias, em pequenas doses.

Se suas aflições estão afetando sua vida e sua saúde, busque por apoio mental e um atendimento profissional e qualificado, a fim de ampliar sua visão de si mesmo e garantir mais qualidade de vida. Consulta nossa página de atendimento e conheça mais sobre esse acompanhamento.

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