Reabertura pandemia: indiferença coletiva

Abriu? Parece que sim. Deixa eu ver aqui!

Meu Brasil brasileiro

Parece um daqueles dias de sonho no Rio. O sol de inverno com seu conforto e toda beleza de um dia de praia. Há uma certa leveza no ar e ficou decidido que já se pode sorrir.

Ouvi dizer que se tem uma certa pandemia, mas agora vamos mesmo é aproveitar o tempo em que se ficou recluso. Caminha-se confiante com ou sem máscara, o álcool gel já tá esquecido por alguma gaveta e espera aí que vou agradecer minha “volta ao meu domingo de praia”.

Brazilian lives matter

Olhei de novo, de uma forma mais reflexiva e vi que nem todos sorriam. Alguns entreolhavam não o olhar da soberba, na realidade, impunham um olhar de sobriedade. Um semblante de austeridade, com a máscara bem posicionada, e de forma incisiva cortavam toda essa euforia coletiva com uma marca da realidade.

Devo confessar minha empatia pelos que ainda não abandonaram por completo os fatos. Aqueles que ainda resistem nos cuidados das medidas preventivas e não se cercam da mais incoerente indiferença.

Por vários momentos, nos últimos meses, divaguei pela ufania da mudança. Apostei no despertar da introspecção como uma marca que proporcionasse mais coerência de valores. Sabemos que mudar são para os fortes, assim deixa eu voltar a seguir aqui minha blogueira Fitness, chega desse papo cabeça. Ufa, agora vou poder postar foto sem mentir que foi de não sei quando e aproveito logo para abraçar bem apertadinho todo mundo.

Brasileiro não foi feito para ficar sem contato social. Antes dessa confusão toda, a economia caminhava muito dentro do conceito do compartilhamento de bens, não necessariamente precisa-se ter um carro, um escritório ou mesmo muitos bens de consumo como bicicletas. Agora o passeio de carro assumiu um status diferente e pelo que vejo nos despertares: deixa eu ver aqui como ganho dinheiro para me proteger da próxima “bagunça mundial”.

Samba da benção

Ainda olho os lugares públicos, como se não tivesse autorizada a por ali permanecer. Resquício da quarentena? Respeito ao fato de que ainda estamos atravessando uma crise sanitária? Tristeza por todas as perdas que estamos atravessando? Ainda em dúvida prefiro respeitar a minha falta de vontade.

Como se fosse apresentada para uma alegria triste, um silêncio barulhento e agora tivesse que me haver com minha própria ilusão. Confusa mergulho na minha inquietude como se me protegesse, da nova ordem dos “sobreviventes” do tédio e ainda ressentida pelo luto de vidas.

Há um convite para o convívio social de certa forma meio torpe. Finge-se que agora tudo passou, enquanto atingimos 50.058 mortes na República Federativa do Brasil. Precisamos retomar, precisamos trabalhar, precisamos de entretenimento…ouço estas vozes de ordem como imperativos de um coletivo individual. Quem tem razão?

Ninguém sabe. Só talvez não podemos impor um carnaval fora de época como se fizéssemos chacota do horror. Precisa-se voltar, os cárceres privados já não suportam o sufrágio do delivery, as orações das lives e a embriaguez solitária. Querem proclamar versos sem rima para se afirmarem fortes e imbatíveis.

O momento vai requerer se posicionar, na alegria dos sem máscaras ou na altivez dos que permanecem com as máscaras para poderem marcar um compromisso não somente consigo. Por via das dúvidas sigo de máscara para poder sentir não a alegria da indiferença, mas a alegria da empatia.

 

Rio de janeiro, 21 de junho de 2020.

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