A mente humana tem sido objeto de estudos há muito tempo, inspirando livros, pesquisas e até mesmo servindo como pauta em rodas de conversa. O fato é que o comportamento e as emoções individuais e coletivas se mostram importantes objetos de interesse não só para a evolução humana, mas para a construção cultural do ser.
Neste cenário, a saúde mental adota uma amplitude muito importante, interferindo na construção das relações sociais, no estilo de vida e na forma como a sociedade lida com os diversos comportamentos e os valores adotados por cada um, já que a mente tem total controle sobre as ações e a forma de o indivíduo perceber o mundo.
Neste artigo vamos falar mais sobre as diversas faces da saúde mental e de que forma ela pode interferir no comportamento e nas conexões sociais.
O que é saúde mental?
Para começar a explorar este assunto tão amplo e delicado, precisamos perceber que a saúde mental do ser humano se modifica ao longo da vida, de acordo com as experiências e com os ambientes aos quais está inserido.
Em suas vivências, o ser humano passa por diversas etapas de desenvolvimento, em que são necessárias adaptações, ou mesmo a superação de alguns problemas. Certas pessoas, por exemplo, em dado momento da vida, desenvolvem problemas psicológicos após sofrerem um trauma muito grande.
A maneira como a mente lida com essas situações, define a qualidade da sua saúde mental e a forma como outros mecanismos do seu corpo reagem mostrando a forte ligação entre o físico e o psicológico.
Durante o período de pandemia, houve uma ruptura do conhecimento popular sobre saúde mental trazendo à tona essa importante parcela da saúde pública para debates, palestras e dentro de ambientes corporativos e familiares.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, encomendado pelo Fórum Econômico Mundial, cerca de 53% dos brasileiros declararam piora em sua saúde mental durante o último ano, resultado da instabilidade do período de pandemia e de suas várias consequências.
Logo, a necessidade de isolamento social, os altos índices de desemprego, a insegurança, o número crescente de óbitos e tantos outros fatores colaboraram para que a saúde mental, não só dos brasileiros, mas de toda a sociedade, se mostrasse uma das principais fragilidades mundiais.
Janeiro branco pautando a saúde mental
Ao longo dos doze meses do ano, diversas campanhas são compartilhadas e apoiadas, a fim de elencar a importância de certos assuntos em todos os ambientes. Para dar as boas vindas a um novo ano que se inicia, janeiro abraça o tema saúde mental, colocando em debate as doenças de cunho psicológico.
O fato é que depois de um ano conturbado para toda a sociedade, a saúde mental deixou de ter seu foco apenas no janeiro branco, e se mostrou uma necessidade em diversos ambientes, a ponto de modificar relações, criar fortes conexões e ditar novas regras para os mais diversos ambientes.
Mesmo assim, há um caminho muito longo a ser seguido, afinal para muitas pessoas a saúde mental não é uma prioridade e, por consequência, a busca por ajuda profissional fica isolada de outros setores do cuidado à saúde.
A falta de informação, o ceticismo social e a vergonha são os principais motivos para que as pessoas deixem de buscar ajuda em saúde mental. Essas barreiras construídas culturalmente, são objeções que podem ser derrubadas com informação de qualidade, apoio, rede de proteção e incentivo. Falar sobre saúde mental ajuda diversas pessoas a compreenderem suas aflições e pensamentos despertando a necessidade de pedir ajuda.
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Saúde mental e as redes
As redes sociais são uma realidade na vida pessoal e profissional de muitas pessoas, tornando-as objeto de estudos e pesquisas científicas. Parte disso se dá à facilidade com que conecta as relações e culturas, mas também pela influência que exerce sobre o comportamento humano e suas emoções.
De acordo com o inquérito epidemiológico #StatusOfMind, publicado na “United Kingdom’s Royal Society of Public Health, as redes sociais influenciam muito mais os jovens do que outros vícios, como o tabaco e o álcool.
A pesquisa foi feita com 1.479 jovens do Reino Unido, com idades entre 14 e 24 anos, com o objetivo de avaliar o impacto de diversos itens relacionados à saúde mental e bem-estar. São eles:
- acesso a informações de saúde confiáveis;
- apoio emocional e empatia de familiares e amigos;
- ansiedade;
- depressão;
- sensação de solidão e infelicidade;
- qualidade do sono;
- Entre outros.
Com base nessas questões, os jovens precisaram elencar, de acordo com as plataformas sociais mais populares, aquelas com maiores e menores efeitos positivos sobre suas vidas e sua saúde mental. Como resultado, as plataformas mais nocivas indicadas pelos jovens foram o Snapchat e o Instagram, redes centradas no conteúdo de imagens.
A distorcida percepção de si mesmo e das pessoas a sua volta é uma característica muito presente na relação mental dos jovens, entre si e com as redes sociais, que alimentam estereótipos e contribui para o surgimento de diversos transtornos como ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e entre outros.
A saúde mental é um tema tão recorrente na vida destes jovens, que tem ocupado um espaço importante também nos conteúdos consumidos diariamente por eles, muito além das redes sociais
Cada vez mais programas de TV, filmes, séries, livros e outros conteúdos de entretenimento, retratam as fragilidades da mente e as diversas situações que colaboram para tal instabilidade, falando de forma aberta sobre assuntos como ansiedade, depressão, burnout, transtorno bipolar, entre outros distúrbios.
A série “Euphoria”, por exemplo, que aborda diversas questões importantes e atuais na vida dos jovens, fala em diversos momentos sobre saúde mental e a importância do apoio familiar frente às situações de vulnerabilidade.
Neste contexto, a indústria cinematográfica também tem utilizado a saúde mental como temática para suas histórias. Filmes como Coringa (2019), Por lugares incríveis (2020), O mínimo para viver (2017), O lado bom da vida (2012), e até mesmo as animações Soul (2020), DivertidaMente (2015), Perdi meu corpo (2019) e Encanto (2021), levantam a importância de se falar sobre os cuidados com a mente.
Já nas redes, diversas marcas também cravaram suas bandeiras para combater o tabu que envolve a saúde mental – como a FIFA e a própria Organização Mundial da Saúde – criando campanhas que humanizam as aflições da mente e levando o tema para diversos pilares da sociedade.
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Saúde mental no ambiente corporativo
A rotina profissional ocupa quase 15 horas diárias na vida dos brasileiros, podendo oscilar para mais ou menos, a depender da área de atuação, dos objetivos profissionais definidos ou da falta de comprometimento com a saúde mental.
Para muitas pessoas, a vida profissional se tornou com o tempo, uma verdadeira bomba relógio, prestes a explodir. O resultado de um longo período de insatisfações, frustrações e desânimo acabam limitando seu trabalho e desencadeando diversos problemas em saúde mental.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos emocionais e comportamentais estão entre os principais motivos de faltas ao trabalho em todo o mundo.
Além disso, ainda existe uma parcela de brasileiros que optam por fazer uma transição de carreira, em busca da tão sonhada realização profissional e também para a manutenção da saúde mental.
Segundo levantamento da empresa Scoop & Co, 63% dos profissionais brasileiros já mudaram de carreira e 48% consideram mudar de área nos próximos meses. A profissão escolhida – muitas vezes tomando como base os nichos familiares, a pressão social ou a realização financeira – não consegue suprir as necessidades emocionais e o resultado é uma saúde mental fragilizada.
Para amenizar as perdas e mudar a realidade de diversos ambientes profissionais, muitas empresas estão recriando suas normas e cartilhas e incentivando os cuidados com a saúde mental – como a assistência de um psicólogo à equipe. Além disso, os formatos de trabalho também começam a se mostrar mais flexíveis, com expedientes em home office ou híbrido.
Assim sendo, tanto a vida profissional quanto a pessoal se mostram conectadas a saúde mental e a incessante busca pela qualidade de vida. Abaixo listamos algumas boas práticas para serem implementadas na sua rotina, que podem fazer a diferença na manutenção das suas emoções e sentimentos, além de colaborar para o bem-estar mental.
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Boas práticas para o cuidado com a saúde mental
Renove-se
Antes de entrar em crise ou colapso emocional é preciso voltar para si mesmo. Em seguida, reconhecer o que é seu e o que é dos outros. Definida esta “volta a si mesmo”, procure identificar se o seu sofrimento emocional já está o tornando diferente, ou mesmo, se você já está se estranhando em seus comportamentos.
Muitas pessoas precisam deste momento de reflexão para rever valores, conceitos, comportamentos, sentimentos e necessidades, aplicando as mudanças que lhe forem mais adequadas. Como já citamos, boa parte das pessoas decidem mudar de ambiente ou até mesmo de carreira, em busca de realização e saúde mental.
Busque por ajuda profissional
Essa é uma prática fundamental, afinal nem sempre conseguimos entender os sintomas e por muitas vezes nos negamos a acreditar, por isso a ajuda de um profissional em saúde mental faz todo o sentido.
Esse apoio, além de proporcionar um momento para delimitar melhor seu sofrimento, poderá definir se o seu tratamento será através de terapia, ou também precisará de medicamentos.
Conversas e diálogos
Esteja aberto a diálogos sobre saúde mental, seja com a família, amigos e também com o apoio de um profissional qualificado. Essas conversas facilitam muito o processo de tratamento e a retomada da qualidade de vida.
Dentro dos ambientes corporativos também há necessidade de buscar apoio emocional, e em muitos casos ajudas externas para compreender e tratar suas aflições. Diversos profissionais de saúde mental oferecem serviços voltados para empresas, com palestras e consultorias que retomam a importância dos cuidados com a mente e do apoio aos colaboradores.
Vida além das redes sociais
As redes sociais tem seus aspectos bons e ruins, mas assim como tudo na vida, precisa ser dosada e controlada, sem que tenha influências sobre suas emoções, ações e principalmente na sua saúde mental.
Aproveite para estar presencialmente na sua vida. Estude, trabalhe e se comprometa na construção dos seus projetos. Não deixe de se emocionar e estar envolvido com sua família, amigos e pessoas que gosta.
Encontre prazer no pequeno
Alguns criam rotinas corridas nas quais apenas repetem sem se dar conta do que estão desenvolvendo. Olhe o céu, também não se distraia do chão para não tropeçar.
Faça atividades físicas
Segundo dados epidemiológicos, pessoas moderadamente ativas têm menos risco de serem acometidas por desordens mentais do que as sedentárias. Logo podemos concluir que um corpo em equilíbrio, também mantém a mente equilibrada.
Seja ativo, adote uma rotina mais saudável e veja as mudanças acontecerem na sua vida. Humor renovado, rotina mais produtiva e relações cultivadas à sua volta com um sabor especial.
Conclusão
Depois de algumas dicas para a manutenção da saúde mental, é a hora de colocar em prática tudo o que aprendeu. Organize uma rotina que tenha pausas para momentos de relaxamento, de imersão e de autoconhecimento.
Se perceba e procure ajuda profissional quando necessário. Busque juntamente com um especialista, alternativas para lidar com os desequilíbrios da mente e reorganizar a sua vida, sem comprometer o bem estar.
O que achou deste artigo? Sabemos a importância dos cuidados com a saúde mental e queremos te ajudar a retomar a sua qualidade de vida. Em nossa página “Onde buscar ajuda” mapeamos para você os locais mais próximos que oferecem atendimentos em saúde mental oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Não tenha medo de buscar ajuda. Você não está sozinho!
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