Concurso literário: Piauí
A revista Piauí promove todos os meses um concurso literário, em que precisa se inserir uma frase selecionada e ao longo do texto um elemento estranho. Amo a revista Piauí e decidi passar a me esforçar por mandar algo. Não obtive sucesso, este mês, mas vou continuar me esforçando. O vencedor sai publicado na edição do mês e os quatro primeiros no site da revista https://piaui.folha.uol.com.br/ .
Frase: “Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietantes, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num..”
Elemento estranho: Organizações Tabajara
Aqui segue o texto que enviei. Decidi compartilhar por aqui para que ficasse de alguma forma registrado, este momento de reflexão. Aos devotos do chefe executivo aconselho não lerem. O conteúdo contraria o que podem achar interessante. Aos que se aventurarem na leitura…obrigada!
Pátria amada Alegria
A praça já estava vazia, não tinha baralho e com a igreja fechada estava duro poder contar piadas. As pessoas estavam muito chatas com essa história de se isolarem, de não frequentarem nossa roda de conversa ou aceitarem ir nos churrascos lá de casa. A vida realmente estava um tédio.
Nos tempos em que era incauto, bradava logo ali na mesa do bar do Zé, que nesta cidade só tem maricas. Se escondem para não trabalhar, dizem que estão mantendo o tal distanciamento social, mas querem mesmo é vagabundear. Tempos difíceis em que o homem trabalhador é apontado na rua por estar mantendo sua missão com nossa tão amada Alegria.
Sinto saudades dos dias que todos me davam razão. Falava o que profundamente acredito e ficavam todos em silencio, concordando de forma tão retumbante. Era um verdadeiro show na praça, em que minhas piadas faziam coro na cidade e logo todos estavam por aí me imitando. Até minha mãozinha fazendo o L de Liberdade, o que em alguns momentos foi caluniado pelos invejosos que era uma menção a uma das minhas ex-namoradas: a Lívia. E daí?
Tenho saudades dela mesmo. Não aguentou meu bom humor depois que no velório do pai dela estreei um repertório novo de piada. Fazer o quê? Acho graça mesmo de defunto e tenho apreço por fazer rima. Acho que se não fosse morador de Alegria me mudava lá para Praga, pois está na moda se propagar por aí. Estou de olho no retorno das atividades. Aqui de casa já planejei como vai ser o carteado da praça.
À direita vai ficar os que continuam rindo das minhas piadas. Preciso prestigiar meu público com a vista privilegiada do palco, devo servir até uma cachaça sem álcool para eles – clorokiny. Na esquerda vão ficar os sem senso de humor: aqueles que nunca riram, os que riam, mas agora negam e aqueles que estão dando um risinho amarelo. Rir para mim tem que mostrar os dentes e não usar paninho de boca – coisa que a moda de Praga está ditando. Aos da esquerda devo servir uma tubaína quente mesmo, para sentirem o peso da ingratidão. Aqueles que ora riem, choram ou fazem silêncio – famosos vão com as outras – reservarei o centrão. Ao futuro da direita servirei cachaça com álcool para que mostrem os dentes. Preciso apostar no futuro.
Já estou me acostumando com o sucesso, melhor já ir se obrigando a achar graça. Afinal devo sair no jornal das Organizações Tabajara e ganhar homenagem da prefeitura de Alegria. Quero sonhar grande, pois sei do meu potencial para fazer piada e o meu humor há de ceifar toda coerência. Por que dizer coisas com sentido? Frases com conexão? As pessoas precisam do não dito para poderem exercer suas próprias piadas. Depois todos me agradecerão por todo meu esforço em manter o espetáculo.
Assim o Kafta, autor famoso lá da nossa capital Praga escreveria “Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietantes, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num Presidente da República da Vara” (Não serei Presidente da República Chéka, nem de Cherecas, afinal sou patriota e não matriota).
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2020.