Para muito além das campanhas de prevenção ao câncer de mama e de útero, a saúde mental da mulher é um tema que precisa ser tratado com a devida importância. Afinal, uma em cada cinco mulheres dos 16 aos 25 anos já apresentavam algum problema psicológico, como afirma um estudo realizado pela Mental Health Foundation em 2016.
Mas porque este é um assunto tão importante? Estresse, ansiedade, depressão, a pressão social pelo corpo perfeito, além da necessidade de ser reprodutiva, desencadeiam problemas psicológicos nesse grupo que são negligenciados pela sociedade e pelos órgãos de Saúde Pública.
Ademais, as mulheres são multitarefas e se dividem entre o trabalho fora e as obrigações com a casa e os filhos, por isso o esgotamento físico e mental é tão evidente. Logo, a importância da assistência à saúde mental da mulher, integrando os serviços ginecológicos e mentais não pode ser deixada de lado.
Neste artigo você entende a importância de lidar com as questões psicológicas sob um olhar diferente, mais direcionado para o bem-estar social. Continue lendo!
Por que as mulheres adoeceram mais na pandemia?
As mulheres são mais afetadas por problemas psicológicos do que os homens, é o que diz o Mental Health in the Americas. Além disso, o sexo feminino é mais suscetível a desenvolver doenças biológicas do que os homens. Esses, por sua vez, são mais propensos a expressar seus sentimentos por meio de comportamento disruptivo ou anti-social.
Além disso, fatores sociais e econômicos podem colocar a população feminina em maior risco de problemas de saúde mental. Todavia, um estudo feito no Instituto de Psiquiatria da USP apontou que a população feminina foi a mais afetada durante a pandemia, das entrevistadas 40,5% relataram sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.
Sendo assim, as mulheres precisam ser mais fortes e isso as leva a internalizar sentimentos difíceis como a ansiedade e depressão. Quando falamos das mulheres negras e periféricas, os obstáculos são ainda maiores, pois elas ainda lidam com outros tipos de violência, como a discriminação.
O que afeta a saúde mental das mulheres?
O acúmulo de funções é uma das características femininas. Isto é, as mulheres precisam se desdobrar para trabalhar fora e cuidar da família. Mais do que isso, os padrões de beleza e a pressão pelo corpo perfeito contribuem para a sobrecarga emocional deste público.
A saúde mental da mulher em suas diferentes fases de vida
Os eventos e as mudanças sociais podem afetar a saúde mental das mulheres em cada fase da sua formação como indivíduo. Isso nos mostra que o cuidado com a saúde mental da mulher precisa ser em todos os seus aspectos de vida.
Na adolescência
Para a Dra. Alexandrina Meleiro, psiquiatra, as transformações físicas e hormonais, nessa fase de vida, são responsáveis por moldar o indivíduo para a vida adulta. Segundo a OPAS, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes no mundo todo. Uma vez não tratada, as condições de saúde mental podem se estender à fase adulta.
Além disso, meninas em situação de vulnerabilidade social possuem pouco acesso à informação de saúde menstrual. Mais de 60% de adolescentes e jovens já deixaram de ir à escola ou outro lugar que gostam por conta da menstruação. De acordo com a UNICEF, 35% afirmaram que já passaram por alguma dificuldade por não ter acesso a absorventes, água ou outra forma de cuidar da higiene menstrual.
Com a escassez de recursos básicos para o período menstrual, essas jovens também sofrem com a falta de informação adequada sobre saúde menstrual e como se proteger de uma gravidez não planejada.
Outro ponto que pode ocasionar quadros psiquiátricos em meninas é a gravidez na adolescência. Considerada uma questão de saúde pública, a gravidez na fase da adolescência traz muitos problemas à vida da grávida e seus familiares. Em muitos casos, essas meninas precisam lidar sozinhas com a gravidez e todas as complicações que um bebê não planejado pode trazer.
Muitas delas não conhecem o próprio corpo, muito menos a saúde menstrual. A partir daí, episódios de estresse, tristeza profunda, depressão e ansiedade costumam ser comuns. Esse é, portanto, um dos principais problemas de saúde mental que afeta as mulheres na fase da adolescência.
Durante e depois da gravidez
Descobrir que está prestes a ter um bebê muda completamente a rotina de vida de uma mulher, por isso, algumas delas podem desenvolver a depressão pré-natal, que ocorre durante a gravidez, e a depressão pós-parto, que acontece após o nascimento do bebê.
Durante essa etapa, o excesso de preocupações sobre o futuro do bebê, o medo da gravidez e as mudanças no corpo, nas finanças, no tempo e nas relações, podem gerar ansiedade pré-natal e depressão na mulher.
A gravidez é um momento de profundas mudanças físicas e emocionais. Embora o fortalecimento do apoio social seja uma recomendação comum para reduzir riscos, não é isso o que acontece na prática. Por isso, a falta de uma rede de apoio durante a gravidez pode ser muito prejudicial para a saúde mental da mulher.
Logo, o medo do futuro agrava os quadros de ansiedade, além do mais, a falta de recursos financeiros para cuidar de um recém-nascido também levam a mulher ao estresse extremo. “Quem cuidará do bebê enquanto eu trabalho? Quem ficará com o bebê à noite para que possa dormir? Como eu vou pagar as contas? E se eu não conseguir um emprego?”.
Repare, então, que mulheres grávidas correm grandes riscos de desenvolver problemas de saúde mental como os citados acima, que são ainda mais comuns nessa fase de vida, e são agravados por questões financeiras e relacionamentos principalmente em pessoas de classe social mais baixa.
No puerpério
Neste período, que se inicia após o nascimento do bebê, a mulher passa por diversas transformações decorrentes da maternidade, muitas delas associadas à oscilações de humor, falta de ânimo, energia e prazer nas coisas rotineiras.
Vale lembrar que o mercado de trabalho ainda é muito rígido com mulheres que são mães, muitas delas não conseguem se inserir no mercado por terem filhos ou são demitidas logo após terem filhos. Isso gera tanto desconforto e sentimentos difíceis que aumentam as chances de uma mulher, nesta fase, progrida para quadros de ansiedade ou depressão.
Dica do post: para complementar a sua leitura acerca do tema, confira essa playlist de vídeos que contam um pouco mais sobre o que é depressão. Saiba mais!
Na chegada da menopausa
Na menopausa, a mulher também está sujeita a alterações emocionais , então o estado de humor oscila bastante e tudo isso está relacionado à queda na produção dos hormônios. Esse período de transição pode causar quadros psiquiátricos já que as questões sociais e estéticas para esse público podem mexer com a autoestima da mulher madura.
Além disso, uma pesquisa realizada pela Aging & Mental Health publicada em 2018 revela que a saúde mental da mulher idosa está relacionada às relações sociais, ou seja, as conexões que essa mulher faz ao longo da vida, e financeiras, pois a diminuição da força de trabalho pode determinar perda do poder de renda.
O acesso à atividade física e alimentação saudável também estão relacionados à saúde mental da mulher na menopausa, coincidências de eventos adversos da vida e experiências de violência interpessoal, em particular o abuso de idosos
Entretanto, não se pode negligenciar as mudanças sociais como a aposentadoria, ou mesmo, uma necessidade física da diminuição de sua força de trabalho, o que pode determinar perda do poder de renda.
Precisamos olhar a trajetória da mulher, sem se esquecer que suas mudanças biológicas ao longo da vida influenciam intensamente alguns aspectos emocionais e isto precisa ser cuidado.
10 dicas de cuidados essenciais para a saúde mental da mulher
A seguir temos uma lista com 10 maneiras práticas de cuidar da sua saúde mental e tirar o máximo de proveito da vida, de acordo com a Mental Health Foundation.
1. Fale sobre os seus sentimentos
Às vezes negligenciamos a forma como nos sentimos, colocando as emoções ruins para escanteio. No fim, todo esse turbilhão de sentimentos vai se tornar uma bola de neve. Por isso, não guarde nada para si, fale com os outros como se sente.
2. Mantenha-se ativa
A prática de exercícios também é um ótimo jeito de lidar com os sentimentos difíceis, além de fortalecer o seu corpo e cuidar da sua saúde. Em especial da sua saúde mental, e, se for feito com frequência e intensidade corretas, podem contribuir para diminuição de sintomas emocionais negativos.
3. Alimente-se bem
Nem sempre dá para se alimentar bem, no entanto, você pode começar aos poucos, inserindo alimentos saudáveis à sua rotina alimentar.
4. Não abuse do álcool
Na maioria das vezes achamos que o álcool tem o poder de desaparecer com os nossos problemas, mas esse efeito é temporário, ou seja, o alívio é momentâneo e quando o efeito da bebida passa, você se sentirá pior.
5. Converse com amigos e familiares
Contar com pessoas próximas pode melhorar o seu humor. Assim, sempre que se sentir sobrecarregada converse com alguém.
6. Não tenha medo de pedir ajuda
Sabemos que a mulher é taxada como sexo frágil, mas isso não é verdade. Muitas das vezes, precisamos ser fortes e dar conta de tudo sozinhas, não ligamos para os sinais do corpo que necessita de descanso.
Pensando nisso, se as coisas ficam pesadas demais, peça ajuda. Fale com seu companheiro, divida as tarefas de casa e o cuidado com as crianças. No caso das mulheres em maternidade solo, que entendam a importância de criar uma rede de apoio que as apoie, busque compartilhar seus anseios com outras pessoas do seu ciclo.
E o mais importante: não adie a busca de ajuda profissional, já que psicólogos e psiquiatras, com sua formação técnica, podem identificar o que está acontecendo com você e sua mudança na forma de sentir.
7. Faça pausas
Realizar pausas entre as tarefas do dia a dia é essencial para a sua saúde mental. Lembre-se de fazer algo que goste, como ler ou ouvir sua música favorita.
8. Faça algo que te agrade
Uma ótima forma de cuidar da saúde mental é se mimar um pouco e você não precisa gastar muito para isso! Cozinhe o seu prato favorito, assista a um filme, pois esses pequenos momentos de cuidado vão te ajudar a enfrentar a rotina.
9. Ame a si mesma
Parece clichê, mas quando falamos de aceitar quem você é, é mais saudável do que se comparar a outras pessoas.
10. Cuide dos outros
Seja amigos, familiares ou um bichinho de estimação, cuidar de alguém vai fazer bem para a sua saúde mental. Se for possível, adote um animal de estimação, entretanto, se não tiver em seus planos, tente cuidar de algumas plantinhas.
Cuidar da saúde mental é essencial para viver bem e com qualidade. Pensando nisso, continue se aprofundando no assunto com outros temas do Portal da Mente. Confira aqui!