Desacelerar: rotinas aceleradas e a busca por saúde mental

As sociedades modernas estão em constante mudança, evoluindo e expandindo, assumindo um novo ritmo para suas rotinas e para as atividades diárias. A tecnologia também tem um importante papel neste cenário, onde a necessidade de avanço e praticidade tomaram o lugar de relações, carreiras, da vida de modo geral. O avanço tecnológico e as rotinas aceleradas do dia a dia assumiram o piloto automático.

Conseguir administrar os compromissos, gerenciar o estresse e ainda manter a qualidade de vida é o desejo de boa parte das pessoas, mas poucos realmente conseguem manter essa rotina em suas vidas. Boa parte, tem dificuldade de seguir este estilo de vida saudável, graças às suas rotinas agitadas e o frequente desejo de crescimento, que se baseia nas estruturas urbanas atuais, com a correria dos dias e o estresse tão comum nas grandes metrópoles.

A verdade é que as vidas cotidianas assumiram uma intensidade extrema, onde a busca por crescimento profissional, conquistas financeiras e estabilidade em seus lares e carreiras, mudou a forma como as pessoas se relacionam, e essa necessidade veio com o desenvolvimento social e o avanço tecnológico, que já assume uma posição quase de liderança em relação a outros departamentos.

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As relações online

O incessante ciclo de vícios que se formam para tornar o cotidiano mais produtivo, com rotinas exaustivas que cobram condicionamento físico, produtividade profissional, desempenho exemplar em casa e felicidade invejável nas redes sociais, constrói uma vida irreal e coloca em risco a saúde mental de muitas pessoas que se deixam levar pelo ritmo acelerado da sociedade.

Nos últimos anos os distúrbios mentais tiveram um crescimento considerável. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país com mais casos de ansiedade no mundo e o quinto mais depressivo, porém poucos são os casos de pessoas que buscam por assistência médica adequada para tratar essas doenças. Na realidade, muitos percebem o excesso de estresse e cansaço, mas não podem parar em nome da locomotiva produtividade ou do almejado sucesso.

O convívio social tem total relação com as instabilidades emocionais emergentes no país e durante o período de pandemia esses números só aumentaram, o que trás à tona a discussão sobre as relações online e o distanciamento de laços mais próximos entre as pessoas, ao vivo.

FOMO

O termo “FOMO” ou “medo de ficar de fora” foi muito utilizado nas redes e fala exatamente da necessidade constante de se manter conectado e informado sobre o que acontece no universo online. Age como uma angústia que afeta a produtividade no trabalho, mas também interfere na vida pessoal, causando sintomas limitadores da qualidade de vida.

Podemos associar o termo também a necessidade se estar presente nas redes. Quase todas as pessoas se mantêm ativas nas redes sociais, mas ainda existem aquelas que preferem se afastar ou aplicam os chamados “detox digital” – quando ficam algum tempo distantes da tecnologia, mas precisamente das redes. Esse comportamento ainda é visto com maus olhos, o que colabora para um retorno muito mais rápido do que o esperado e alimenta o vicio na vida conectada.

Influenciadores e suas rotinas aceleradas

O universo digital tomou conta da vida. As redes sociais já são muito mais do que entretenimento, se tornaram item de necessidade básica das relações modernas, chegando a afetar os relacionamentos, a comunicação e a administração de tempo. 

A sociedade se tornou altamente ansiosa e os desafios das rotinas urbanas deixaram de priorizar a saúde e a qualidade de vida. A ansiedade assumiu seu papel de vilão e o medo da instabilidade emocional fez com que muitas pessoas escondessem seu psicológico, buscando adequar-se a novos padrões e ambientes. 

Muitos influenciadores utilizam a internet para disseminar a cultura da produtividade a qualquer custo, oferecendo as rotinas aceleradas como uma necessidade básica para quem quer obter sucesso, se esquecendo da parcela de pessoas que acabam sucumbindo por instabilidades emocionais e sentindo-se fracassar por não acompanhar o ritmo de uma sociedade acelerada.

Exemplos que muitos seguem nas redes, acabam mesmo indiretamente e sem qualquer intenção, desencadeando diversas doenças mentais, que tomam a fraqueza e a incapacidade como motivação para dominar o corpo e a mente, como a ansiedade e a depressão, por exemplo.

Glamourização das rotinas cheias

O ócio não é incentivado, pelo contrário, ele é visto com maus olhos pela sociedade. Não se pode descansar, relaxar, se permitir não fazer nada por um tempo. As rotinas aceleradas garantem incentivar uma vida mais feliz, mais completa, como se a felicidade plena dependesse de aquisições financeiras e a quantidade de projetos com os quais a pessoa se ocupa.

Celebridades, influencers e tantas outras pessoas compartilham nas redes suas vidas agitadas, cheias de atividades, uma agenda preenchida e intensa, o estereótipo de vida ideal, mas que não trata da paz interna, da saúde mental e dos momentos de tranquilidade que precisam ser aproveitados.

A necessidade constante de produção, de se manter produtivo e ativo, carrega a ideia de fracasso para aqueles que curtem os momentos de ócio. Com o tempo a pessoa se sente pressionada a estar no limite das suas forças, se mostrando ativo e colocando o descanso em segundo plano. A intensidade do trabalho e da rotina de modo geral, consomem seu tempo e sua saúde mental, tornando-o dependente de um ciclo de trabalho nocivo.

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Rotinas aceleradas e o mercado de trabalho

Quantas vezes você já se sentiu culpado ou preocupado com as reações dos seus gestores, por estar doente e precisar se afastar do trabalho? Esse sentimento é muito comum, principalmente em uma sociedade onde as rotinas aceleradas são vistas como uma necessidade. As empresas buscam produtividade e agilidade, deixando de dar atenção a qualidade de vida dos funcionários.

Em um cenário home office essa situação não difere muito. Há sempre e necessidade de se mostrar produtivo e necessário, adicionando a rotina longas horas de trabalho e entregas acumuladas. O home se confunde com o office e as pausas e tempos livre começam a despertar culpa ou insegurança, com relação a produtividade e desempenho aos olhos da empresa.

A infelicidade profissional está diretamente ligada a saúde mental das pessoas, que em muitos cenários é vista como desculpa ou longe de ser prioridade. As rotinas aceleradas que nunca permitem uma pausa começam a corromper o bem estar e tornam o cotidiano um grande sacrifício, onde as segundas feiras são temidas e as sextas se tornam motivo de comemoração.

Ainda não são a maioria, mas muitas empresas já notaram a necessidade de se contribuir e incentivar a manutenção da saúde mental dos colaboradores. Diálogos mais humanizados e abertos começam a ser estabelecidos dentro do ambiente corporativo, assim como a indicação e assistência de um profissional para o acompanhamento da equipe. Serviços como palestras e consultorias em saúde mental podem ser excelentes aquisições para esse cuidado.

Reduza as rotinas aceleradas

Não há problema em puxar o freio quando o cenário não lhe parece favorável, mas é preciso assumir o controle da sua rotina e da sua saúde mental, priorizando-a, sem deixar que o insano ritmo da atualidade  limite a sua qualidade de vida.

Desacelerar é uma escolha consciente que te leva a apreciar melhor a vida e alcançar níveis maiores de felicidade. Para conquistar esse estado de espírito e mudar de verdade seus hábitos, temos algumas dicas que podem contribuir aí para que inicie o caminho de criar o seu tempo de “dentro”..

Faça menos coisas

Quando se está fazendo uma centena de coisas, fica muito difícil desacelerar. Em vez de encher sua rotina com tarefas, abrace a ideia de fazer menos, priorizar o que é realmente importante, o que realmente precisa ser feito, o resto você pode delegar ou apenas remanejar em sua rotina. 

“A vida se desenvolve num ritmo tão acelerado, que parece passar por nós sem que consigamos realmente aproveitá-la”

Léo Babauta, autor de “The power of less”

Esteja realmente presente

É preciso estar atento de verdade a tudo o que se faz. Quando notar que está pensando em outra coisa, volte ao tempo presente e coloque foco sempre no agora, no ambiente, nas suas ações. Não é uma tarefa fácil, mas a prática leva a poder começar a se dar conta de que ser “multi tarefas” simultâneas pode ser uma cilada para uma ansiedade constante.

Desconecte-se completamente

Se o seu celular anda contigo para lá e para cá, comece a repensar sobre isso, aprendendo a ficar sem ele quando possível. E se o aparelho é uma ferramenta de trabalho para você, faça intervalos de desconexão, para depositar sua atenção em outras coisas. Também, tente somente realizar as demandas de trabalho via computador para que estreite sua mistura de trabalho com recreação.

Você está 100% presente na sua vida ou apenas deixando-a passar diante dos seus olhos?

Não deixe sua rotina te dominar!

Criar limites para suas atividades já é um bom começo. Deixe de se ocupar de tantos projetos, dedique-se aqueles que realmente fazem bem para você e que tenham sentido com o sua rotina, sem acumular horas extras de trabalho ou deixar de priorizar sua saúde mental e seus momentos de relaxamento.

Além dessas dicas, ainda podemos listar outras que também complementam e ajudam neste processo de autoconhecimento e reconexão com as relações e situações a sua volta:

  • Concentre-se nas pessoas e olhe ao conversar;
  • Aprecie e aproveite a natureza mesmo que tenha apenas uma faixa de vista do céu;
  • Coma mais devagar;
  • Distribua seus compromissos ao longo da semana;
  • Comece a meditar, mesmo que por poucos minutos inicialmente;
  • Encontre atividades que lhe deem prazer. Tire um momento diário para cuidar de você e se dedicar ao que te faz bem;
  • Dirija mais sem querer fazer todas as reuniões no caminho. Ao entrar no metrô, no ônibus, no Uber ou táxi perceba o caminho;
  • Tudo a seu tempo, faça uma coisa de cada vez. Se proponha um mantra de inicio, meio e fim. Quantas vezes abriu seu celular, fez outra coisa e não resolveu o que era preciso?

Conclusão

A saúde mental é um dos principais temas em todos os tipos de ambientes sociais. Transtornos e aflições da mente estão agora fazendo parte dos diálogos e ganhando a devida importância, porém ainda é preciso derrubar algumas barreiras para se conquistar a qualidade de vida que a sociedade precisa, onde falar da mente seja algo encorajado e livre de preconceitos.

Reflita você também. Qual seria o caminho que precisa desacelerar em sua vida? Aproveite para consumir outros conteúdos aqui no Portal da Mente , conhecer melhor suas aflições e compreender o seu eu que precisa de ajuda. Sua saúde mental agradece!

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