Importância do coletivo em tempos de crise

A pandemia do Covid-19 alterou completamente a forma como nos relacionamos com o coletivo. Mediante as incertezas, o comportamento e a consciência de cada indivíduo – bem mais do que as soluções farmacêuticas – foram um fator decisivo no combate à crise sanitária. Isso ocorreu porque no início da pandemia as informações eram escassas, então as fontes de informações mais confiáveis eram decorrentes das autoridades sanitárias, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Os mediadores de tais informações, portanto, eram os chefes de estado e os veículos de imprensa, responsáveis por alertar a população sobre as medidas protetivas contra o Covid-19. No entanto, o número de notícias falsas se disseminou pelo globo quase tão rápido quanto o vírus, deixando os cidadãos ainda mais vulneráveis. Por isso, nota-se que uma mudança na conduta e o apoio à medidas de prevenção – uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social, por exemplo – foram cruciais para a mitigação da pandemia. 

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Sendo assim, é inegável que os líderes das instituições, sejam elas públicas ou privadas, tiveram um papel fundamental no combate ao vírus, uma vez que eram porta-vozes da população. Por isso, nota-se que uma gestão competente e consciente foi de grande ajuda no combate ao coronavírus. 

Uma pesquisa realizada pela Nature Communications, que ouviu cerca de 50 mil pessoas de 67 países, investigou os fatores comportamentais da população associados à saúde pública (higiene das mãos, quarentena) endossados pelas intervenções políticas (fechamento de bares e restaurantes), durante os estágios iniciais da crise sanitária (abril-maio de 2020). Com isso, os pesquisadores perceberam que os entrevistados que demonstravam uma identificação nacional fortalecida eram mais engajados em seguir as normas de saúde pública. 

Outro estudo realizado pela mesma empresa, desta vez com 42 países, buscou entender qual era a relação entre os valores de identidade nacional e uma mudança significativa de comportamento ao longo da pandemia. Com isso, comprovou-se que, em nações em que o patriotismo era maior, a probabilidade de seguirem os padrões sanitários estabelecidos era igualmente elevada.

O nível de patriotismo da população influenciou a maneira que cada povo combateu a pandemia? Neste texto, discutiremos as possíveis implicações dos vínculos entre identidade nacional, liderança e saúde pública para a administração do Covid-19 e de futuras pandemias. Continue a leitura. 

Identidade nacional 

Identidade nacional é a forma que uma pessoa se enxerga e se coloca em relação ao ambiente em que está inserida. É um conjunto de valores, crenças e tradições que unem uma determinada sociedade, influindo diretamente em como o conjunto lidará com certas situações (como guerras, ou uma copa do mundo). Nem sempre a identidade nacional está relacionada com uma ideologia política, mas sim a uma mescla de características que singularizam uma nação. Um exemplo prático: todos os brasileiros têm algo em comum: a língua portuguesa que, entre outros fatores, estabelece uma identidade nacional. 

O mesmo sentimento de pertencimento pode ser compartilhado por indivíduos em escalas menores, como pessoas que carregam o mesmo time de futebol, cidadãos que moram no mesmo bairro e colaboradores de uma mesma empresa. O sucesso do coletivo influi para o bem-estar individual, e a recíproca é verdadeira. Esse entendimento faz com que as sociedades prosperem, uma vez que estão ligadas por um mesmo propósito. 

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O papel do líder em tempos de crise 

É fato que a pandemia trouxe uma gama de incertezas e abalou o psicológico da maioria dos líderes ao redor do mundo. Contudo, enquanto algumas empresas sucumbiram e não souberam lidar com a crise econômica e social que se estabeleceu, outras conseguiram se adaptar e até atingir níveis de sucesso antes inimagináveis. 

Mas isso só foi possível devido à lideranças firmes, que conseguiram conduzir seus subordinados de forma eficiente e segura. Em tempos de dúvidas e faltas de perspectivas, é fundamental que as instituições tenham um discurso de valores coeso, que inspire e oriente o colaborador. Tal fato só pode ser realizado, porém, quando o gestor conhece os riscos, as oportunidades e sabe como dialogar com a equipe. 

Um exemplo prático: enquanto algumas corporações encontraram dificuldades em permanecer com o negócio, por conta das medidas de prevenção, outras aceleraram alguns projetos que estavam na gaveta – como as ferramentas tecnológicas para alavancar as vendas ou serviços. Desse modo, lojas que antes eram físicas passaram a vender online, psicólogos e psiquiatras começaram a atender seus pacientes remotamente, entre outros.

Assim sendo, cabe salientar que os líderes são catalisadores de boas ações, além de terem o poder de influenciar a tomada de decisão das pessoas. Por conseguinte, quando o líder é consciente das suas responsabilidades, consegue gerenciar uma crise com mais afinco e eficiência. Por outro lado, se ele não souber como agir, poderá prejudicar todo o grupo, causando conflitos e aborrecimentos. 

Comportamento coletivo 

A pandemia do coronavírus é uma das maiores crises de saúde deste século. Em outubro de 2021, mais de 235 milhões de pessoas foram infectadas ao redor do globo e quase 5 milhões morreram. As soluções encontradas pelas autoridades sanitárias para combater a pandemia, pelo menos até que os cientistas encontrassem uma vacina ou tratamento médico eficaz, foram a criação de políticas e mudanças coletivas de comportamento. 

Ou seja, para que o vírus seja mitigado, é preciso que a população se engaje com as condutas estabelecidas pelos profissionais de saúde e apoie políticas de proteção contra a Covid-19. Além disso, mesmo após a administração de uma vacina segura, as pessoas precisam se comprometer a tomá-la. Essas atitudes, contudo, só serão possíveis se líderes e autoridades informem o público, mobilizando as pessoas para que realizem ações socialmente responsáveis. 

Entretanto, tal tipo de liderança exige um elo de confiança entre os líderes e os subordinados. Criado apenas com diálogo e um senso compartilhado de solidariedade, esse vínculo com os demais membros do grupo auxilia para que haja uma cooperação mútua e maior adesão às normas estabelecidas. Ademais, há maior motivação para ajudar outros membros do grupo e disposição para se envolver em práticas de bem-estar coletivo. 

A identidade nacional, nesse sentido, presta um grande dever no estímulo ao envolvimento cívico. Consequentemente, surge um sentimento mais aflorado de solidariedade, aumentando o número de comportamentos que beneficiam os demais elementos de um mesmo grupo. Portanto, um forte senso de identidade nacional pode ajudar a combater a pandemia dentro de um país, estado ou cidade. 

Uma identidade coletiva consolidada permite que líderes políticos cheguem a mais lugares, mobilizando a população para aderir às medidas sanitárias protetivas. Quando o líder é astuto e confiante, pode até ajudar a diminuir a polarização dentro dos países, que aumenta o risco de infecções e mortalidade. Isso é importante porque reflete sociedades mais congruentes, com pessoas que conhecem suas responsabilidades e deveres para com o todo. Assim, em momentos como esse, torna-se mais fácil orientar a população para que ela siga as recomendações dos cientistas. 

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A importância de um coletivo saudável emocionalmente 

É fato que a pandemia do Covid-19 estabeleceu uma crise sem precedentes. De repente, as pessoas perderam seus empregos, seus entes queridos e suas convicções sobre o que era ou não seguro. Crianças tiveram que deixar as escolas, trabalhadores não podiam frequentar os escritórios e profissionais da saúde foram jogados em uma espiral de medo, com hospitais lotados e sofrendo com a falta de equipamentos. 

Tudo isso colaborou para o adoecimento da mente e, vários transtornos psiquiátricos, como síndrome do pânico, ansiedade e depressão, passaram por um crescimento considerável nos últimos dois anos. Por isso, nota-se que as corporações que conseguiram prosperar em meio ao caos foram justamente aquelas que se preocuparam com a saúde mental de seus colaboradores. 

Seja qual for o tamanho do grupo, é importante que haja um consciente coletivo e que todos os seus integrantes sintam-se pertencentes à equipe. Em quadros maiores, o mesmo fato pode ser considerado em sentimentos de identidade nacional. Como foi dito anteriormente, nações em que os habitantes não se sentem confortáveis com a própria nacionalidade, foram fracassadas em evitar a disseminação do vírus. 

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Portanto, é de extrema importância que as instituições tenham bons líderes, que possam guiar a população durante os momentos difíceis. Para isso, eles podem se utilizar do diálogo e, principalmente, das novas formas de comunicação para criar relações mais coesas com os seus colaboradores. No mais, a fim de que haja harmonia entre os valores de determinado grupo, é imprescindível que as lideranças estejam atentas aos avanços tecnológicos, que surgem para facilitar as relações interpessoais. 

A pandemia acelerou vários processos sociais e de trabalho relacionados à tecnologia. De uma forma geral, viabilizou que a conexão via internet sustentasse emocionalmente as pessoas oferecendo que não ficassem isoladas por completo e pudessem manter seus laços sociais. Em sentido contrário revelou que um coletivo adoecido desnorteia e aumenta a insegurança das pessoas, pois o perigo passa a estar em todo lugar. Será fundamental para os novos tempos que não se minimize a coerência de valores, de justiça e uma congruência das pessoas em torno de um bem comum. As empresas e nações que “jogarem” com honestidade “real” poderão se alinhar com melhor êxito para a época desafiadora que estamos começando. 

Ao decorrer do texto, você percebeu que lideranças fortes e competentes são fundamentais para a gestão de uma crise. É importante que gestores e líderes, para que o quadro de funcionários tenha uma qualidade de vida digna e consiga se desenvolver, tenham sensibilidade e maior clareza para as questões emocionais. Se este é um assunto do seu interesse, saiba como o Portal da Mente pode contribuir na sua jornada em saúde mental.

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