“Perca 10 quilos em sete dias. Faça as pazes com a balança de forma rápida e eficiente. Enxugue as gordurinhas e fique pronta para usar aquele biquíni dos sonhos no verão. Emagreça sem cortar nenhum dos seus alimentos favoritos”.
Essas são apenas algumas das promessas mais comuns em capas de revista, perfis de rede social, sites e páginas de emagrecimento que bombardeiam os canais de comunicação e chegam ao público de forma incisiva e constante, criando o desejo do emagrecimento expresso.
Aqueles que já aderiram a algumas dessas dietas sabem bem como elas funcionam e até já tiveram alguns dos resultados prometidos, mas sabem também os custos para aderir a essas rotinas: os quilos perdidos voltam na mesma velocidade que foram embora e logo todo o esforço dedicado vai por água abaixo.
Continue a leitura e saiba mais sobre as armadilhas das contagens de calorias.
“Sentia que estava enxugando gelo e muitas vezes ganhava ainda mais peso depois de tudo que perdia”.
A ilusão dos resultados milagrosos
Essa é a realidade de muitas pessoas que caem em golpes como chás milagrosos, dietas restritivas que prometem grandes mudanças no peso, mas apenas contribuem para o reganho, que é um dos principais vilões para quem busca a redução de medidas. Na realidade, é muito mais fácil vender saúde do que ensinar as pessoas a cuidarem dela.
Especialistas recomendam não cortar grupos inteiros de alimentos e nem contar calorias, pois a longo prazo tais restrições e hábitos excessivos podem prejudicar a saúde e causar transtornos alimentares e isso não é uma novidade. Conforme alertava o ilustre professor Albert J. Stunkard (1922 – 2014) , primeiro psiquiatra a descrever quais são as características clínicas de um episódio de compulsão alimentar, 95% das pessoas que iniciam uma dieta, ganham peso novamente cinco anos depois do tratamento.
O fato é que o indivíduo precisa compreender a perda de peso como um estilo de vida, onde seu corpo busca por estímulos mais saudáveis através da alimentação e do exercício físico, sem restringir seus hábitos, mas anulando potenciais malefícios à saúde e ampliando suas possibilidades positivas.
Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), sete em cada dez brasileiros já tentaram perder peso sem qualquer tipo de acompanhamento médico, por conta própria utilizando métodos perigosos ou ineficientes. As famosas dietas da moda funcionam como uma isca para essas pessoas, atraindo com promessas de praticidade, baixo investimento e resultados rápidos e duradouros, o que se mostra completamente irreal com o tempo.
Veja também:
“Eu estava tão desesperada que em surtos de ansiedade, comia tudo que via pela frente e me arrependia depois”
A frustração dos métodos express
Durante muito tempo a moda eram os shakes milagrosos, que saciavam sua fome. Logo os chás passaram a fazer parte desse processo, tidos como a dieta mais saudável, e assim diversos outros métodos se mostram em alta e por vezes em baixa, disputando o investimento daqueles que buscam por uma solução rápida e simples.
As redes sociais tem um papel muito importante na propagação desses produtos, viralizando o “antes e depois” de muita gente, compartilhando receitas detox e pacotes de emagrecimento, atraindo centenas de pessoas que investem e acreditam em cada um desses métodos, acumulando suas diversas tentativas frustradas e alimentando uma saúde mental abalada pelos fracassos obtidos.
Os usuários acabam buscando pela rapidez dos resultados. Querem desesperadamente mudar suas realidades, mas não conseguem assumir um compromisso a longo prazo com seus corpos, suas vidas. Construir um corpo saudável demanda tempo e paciência, com atividades físicas, uma alimentação saudável e uma saúde mental em dia.
Exatamente, enganasse quem pensa que a mente não tem um papel importante no emagrecimento. Sintomas depressivos, estresse, ansiedade e outros distúrbios interferem na alimentação do individuo, despertando a necessidade de comer, principalmente alimentos como pães, bolos, massas, doces e refrigerantes, que despertam a saciedade rapidamente, desencadeando uma sensação de acolhimento e felicidade momentânea.
“Já baixei dezenas de app que prometiam me ajudar a emagrecer e quando vi estava refém de todos eles”.
Apps para emagrecimento
Os celulares que se tornaram itens indispensáveis para se comunicar, se divertir, trabalhar, pagar contas e etc, assumiram uma nova função na vida de muitas pessoas e os apps de emagrecimento se tornaram uma tendência entre usuários de diversas idades e classes, afinal são muito mais acessíveis do que a mensalidade de uma academia ou equipamentos para a prática de exercícios físicos, inclusive muitos deles são gratuitos.
Outra ressalva seria que muitas pessoas passaram a utilizar aplicativos os quais desconhecem o desenvolvimento ou método para poderem “monitorar” melhor sua saúde.
Entre eles, a grande maioria opera no modo de contagem de calorias, o que acaba tornando seu usuário um refém dos números e de tabelas nutricionais que por muitas vezes podem iludir.
“As pessoas que desejam perder peso não deveriam basear sua rotina alimentar na contagem de calorias dos alimentos”, segundo a organização Vigilantes do Peso.
Já foi o tempo em que emagrecer seguindo dietas focadas na quantidade de calorias dos alimentos era a opção mais comum. O corpo humano não funciona de forma tão simples e nem sempre comer menos resulta em uma queima maior de gorduras, é preciso verificar o equilíbrio nutricional do paciente e a biodisponibilidade dos alimentos. Assim como procurar se possível até mesmo entender sua origem, como exemplo se são orgânicos ou não.
De acordo com um estudo publicado em 2017, pela Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, 73% dos participantes da pesquisa que utilizavam um dos aplicativos de emagrecimento mais populares do segmento, sentiram que o serviço contribuiu para intensificar seus distúrbios alimentares. A grande maioria dos entrevistados eram jovens com menos de 20 anos.
Esses métodos se mostram ineficientes quando o assunto é controle e reeducação alimentar. Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, consumir 100 calorias de um doce ou 100 calorias de uma fruta não são a mesma coisa. É preciso aprender a comer melhor, alimentos longe dos picos de insulina, como salgadinhos, biscoitos, doces e produtos industrializados.
Veja também:
“Eu tinha pânico de pensar que comi algo muito além das calorias permitidas pelo app, isso me tirava o sono”.
O prejuízo da contagem de calorias
Um fator preocupante é como essa contagem de calorias pode afetar a vida do paciente de forma intensa, pois essa dependência de aplicativos e dietas excessivas, só interferem na saúde mental e dificultam ainda mais a redução de peso.
Os alimentos ingeridos não se tornam parte de uma nova rotina, apenas são consumidos de forma desconexa, sem qualquer acompanhamento ou sem base nutricional específica, que é o ideal para cada indivíduo. Esses hábitos não criam uma rotina e tão pouco ajudam a adotar um estilo de vida mais saudável, pois afetam completamente o psicológico, que é um dos principais responsáveis pelo sucesso em um processo de emagrecimento.
A longo prazo, esse controle de calorias pode elevar o nível de ansiedade e causar transtornos alimentares e psicológicos severos, seja graças à frustração causada pelo insucesso dos apps ou pelas medidas severas e restritivas a qual os indivíduos se submetem.
Conclusão
O processo de redução de medidas precisa ter o acompanhamento de um profissional capacitado, que conseguirá adaptar suas necessidades a uma redução eficiente e duradoura, garantindo não só bons resultados, mas um novo estilo de vida. Neste sentido, profissionais como educadores físicos, psicólogos, nutricionistas e mesmo psiquiatras podem ser um grande trunfo para não buscar atalhos que conduzem a frustração.
Portanto, antes de baixar diversos aplicativos, seguir perfis de rede social que te fazem ficar com ainda mais angústia por comer procure um profissional habilitado. Com alguém que realmente entende de forma mais complexa o contexto de cuidado da saúde suas chances de obter uma maior estabilidade do seu peso será maior.
Conte suas emoções, não conte calorias. Respeite seu corpo, ao invés de o perseguir.
Quer saber mais sobre a ligação entre alimentação e a mente? Acesse nosso canal profundaMente e aproveite todos os conteúdos que estão disponíveis por lá sobre esse e outros assunto da mente e o corpo.
Gostou do artigo? Continue acompanhando todos os conteúdos que publicamos por aqui e receba toda semana informações de qualidade sobre saúde mental e psicologia.
Veja também: Minhas principais especialidades.
