Diversidade e inclusão é uma pauta que, cada vez mais, tem se tornado um dos principais objetivos das corporações. Se antes o tema já era urgente nas empresas, após a pandemia ficou ainda mais fundamental, já que a crise sanitária acentuou as desigualdades. Olhar para os Direitos Humanos é vital para que uma empresa caminhe para um futuro mais sustentável, com menos sofrimento e desigualdades.
Dessa forma, os grupos mais desamparados, também chamados de minorias, ficaram ainda mais propensos a sofrer abusos ou discriminações. De acordo com um relatório feito pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2020, a pandemia do coronavírus prejudicou enormemente que os países atingissem os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Uma dessas metas é, justamente, a redução das desigualdades sociais.
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Mas, se por um lado, os grupos minoritários encontram barreiras no ambiente de trabalho, o debate para tornar empresas mais diversas está em voga nas organizações. É necessário, portanto, promover espaços seguros, em que as pessoas não sejam barradas por gênero, pela questão étnico-racial ou pela orientação sexual.
Qualquer tipo de discriminação nas empresas é extremamente prejudicial para a saúde mental dos colaboradores. Além disso, uma corporação que não se preocupa com a diversidade no quadro de funcionários atrasa o seu próprio crescimento, já que a pluralidade de ideias e vivências é de grande ajuda para o progresso organizacional.
Pensar em diversidade e inclusão carrega inúmeras vantagens competitivas, afinal, pensamentos diferentes e fora da caixa acarretam em soluções inovadoras. No mais, o nome da organização fica muito melhor na visão do público e de possíveis investidores.
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Para que uma empresa seja mais inclusiva, é preciso que os líderes e gestores tenham empatia e consciência sobre o assunto. Quer saber mais sobre diversidade e inclusão? Continue a leitura!
Diversidade e inclusão: problemas a serem superados
Pessoas com Deficiência (PcD)
Segundo uma pesquisa realizada pela Consultoria Santo Caos em parceria com a Catho, chamado Estudo PCD S/A 2.0 (2019), 62% dos PcDs não estão trabalhando, 66% já se sentiram discriminados no ambiente de trabalho e apenas 10% ocupam vagas de liderança.
Gênero
Um estudo divulgado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica), indicou que, no segundo semestre de 2019, a taxa de mulheres que estavam empregadas (46,2%) era menor do que a dos homens (64,8%). Em 2020, no mesmo período, a situação se agravou ainda mais, visto que 39,7% das mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho. Em comparação, 58,1% dos homens estavam empregados.
Ademais, de acordo com o IBGE no artigo “Outras Formas de Trabalho”, realizado pelo Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual), as mulheres trabalham em média 3,1 horas a mais que os homens, isso somando a jornada de trabalho com as responsabilidades domésticas.
Outro fato preocupante é a dificuldade que mulheres com filhos pequenos enfrentam para voltarem ao mercado. Há também aquelas que adiam a maternidade devido ao preconceito que existe no ambiente de trabalho. Aquela máxima: “Vou assinar carteira e pagar licença maternidade?. Assim quebro rapidamente.” Também, em outro sentido mulheres que escondem no ambiente corporativo suas demandas como mãe para não “demonstrarem” fraqueza, ou perderem oportunidades quando comparadas com homens.
Precisamos entender que as diferenças de gênero são reais, em especial das mulheres que fazem uma escolha de serem mães. Quantas não optaram pelo serviço público para poderem ter uma maior estabilidade na maternidade?
Negros e indígenas
Em se tratando de questões étnico-raciais, negros e indígenas foram os que mais sofreram com segregação, falta de oportunidades e preconceito. Embora a população negra seja maioria no Brasil (56% da população é negra, segundo o IBGE), ela é minoria em cargos de liderança. A pesquisa “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, elaborada pelo IBGE em 2019, afirma que apenas 29,9% dos postos de gerência são ocupados por pessoas negras.
Ao longo da história, os negros foram submetidos à diversas injustiças. É o caso da Constituição de 1824, antes da abolição da escravatura, que assegurava educação para todos, salvo os escravizados. Tais políticas acentuaram as desigualdades entre negros e brancos, sentidas até hoje pelos seus descendentes. Fatores como este causaram um atraso no acesso à melhores condições de vida, algo que está sendo reparado nos últimos anos com as políticas de cotas. Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, em 2020 44,1% dos alunos eram autodeclarados pretos, pardos e indígenas.
A população indígena, por sua vez, também foi vítima da humilhação, violência e preconceito com o passar dos anos. Contudo, o quadro parece promissor, já que, segundo o Censo da Educação Superior, o número de indígenas matriculados em instituições públicas e privadas aumentou 52% entre os anos de 2015 e 2016. Sem dúvidas, uma parte considerável desse acréscimo se deve a Licenciatura Intercultural, que promove a formação de professores indígenas, levando em conta as particularidades históricas e culturais de cada grupo.
Comunidade LGBTQIAP+
A diversidade sexual também deve ser respeitada. A sigla LGBTQIAP+ se refere a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais, pansexuais e outras diferenciações de sexualidade e gênero.
Apesar dos avanços em relação ao preconceito vistos nos últimos anos, ainda há um longo caminho a se percorrer. O Brasil é um dos países mais violentos para esta comunidade, que encontra desafios diários para conseguir boas condições de emprego. Conforme uma pesquisa feita pelo Linkedin em 2019, 35% dos profissionais LGBTQIAP+ revelaram que já sofreram algum tipo de preconceito no ambiente de trabalho.
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Cultura organizacional como solução
Como vimos acima, alguns grupos são fortemente marginalizados e mais propensos a sofrer com a escassez de oportunidades profissionais. Além de salários mais baixos, eles são maioria no chamados subempregos, que exploram o trabalhador, oferecem condições precárias e, na maioria das vezes, são informais e não possuem nenhum resguardo para problemas físicos ou emocionais.
Por isso, uma cultura organizacional forte que se preocupa com a diversidade e inclusão é um dos pilares para acabar com as desigualdades. No entanto, palestras e cartilhas não resolverão o problema, e sim ações que possibilitem um ambiente seguro para todas as pessoas. Não é tarefa simples reduzir preconceitos e paradigmas enraizados em nossa sociedade, mas a união de líderes empáticos e empresas conscientes pode iniciar um ensaio de mudança para esse quadro.
O primeiro passo é estabelecer um planejamento bem estruturado de diversidade e inclusão, com uma área setorial específica para tratar do tema. O setor será responsável por garantir a contratação de profissionais diversos, além de promover debates e construir um plano de metas, visando um ambiente propício e saudável para os funcionários. Desse modo, a existência de lideranças aptas é fundamental nesse momento, pois ela será responsável por treinar seus subordinados.
Questões complexas não podem ser resolvidas apenas com “bandeiras” de representatividade, mas com uma vivência de coletivo que as façam ir diminuindo o ódio e as aproximando dentro de suas necessidades. Sem dúvida, existem abismos educacionais formais que reforçam uma meritocracia que precisa ser cada vez mais olhada com o cuidado e crítica de que num país tão desigual não partimos para o mercado de trabalho em condições de igualdade.
Empresas responsáveis e a sua função social
Nas últimas décadas, tem aumentado a demanda da sociedade por políticas que ajudem a população, não apenas de órgãos públicos, mas de privados também. Consequentemente, uma empresa que não enxerga seu papel social acaba ficando para trás, visto que não acompanha as evoluções do coletivo. Tais práticas vão muito além da filantropia, e devem ser conduzidas com seriedade, uma parceria da corporação, colaboradores, investidores e clientes.
A responsabilidade social de uma empresa está diretamente ligada aos seus objetivos a longo prazo, que estão sintetizados na missão, visão e valores. Por isso, diversas corporações estão empenhadas em para desenvolver a igualdade, com projetos de diversidade e inclusão.
E não pense que isso não faz parte da estratégia de negócios: empresas que apostam na diversidade e inclusão lucram mais. Uma pesquisa denominada “A diversidade como alavanca de performance”, feita pela consultoria norte-americana McKinsey, organizações com mais diversidade de gênero em cargos de liderança têm 21% a mais de chance de ter lucros acima da média do que aquelas que apresentam pouca diversidade.
Responsabilidade Social Empresarial (RSE)
As práticas de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), são um conjunto de iniciativas que servirão como uma espécie de mote da empresa, a fim de deixá-la mais humana, sustentável, responsável e ética. Essa política é vantajosa porque alcança colaboradores engajados, que acreditam no propósito da corporação. Ademais, os clientes e possíveis clientes sentem-se cativados pela marca, se tornando fiéis a ela.
Quando o público nota que a empresa se preocupa verdadeiramente com as causas sociais, além, é claro, da saúde e segurança de seus funcionários, estabelece um laço com a marca, aumentando a fidelidade com ela.
A Responsabilidade Social Empresarial é um termo cunhado pela primeira vez na década de 1990, pelo Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (The World Business Council for Sustainable Development – WBCSD).
Mas como a RSE se aplica na prática? Bom, ela reúne um conjunto de atitudes tomadas pela corporação para assegurar o bem-estar dos funcionários, da comunidade e do meio ambiente. Isso acontece por meio de políticas que promovam a saúde mental e física do colaborador, bem como uma relação de respeito com os clientes e consumidores.
Construir um ambiente mais inclusivo, em que os colaboradores sintam-se seguros para exercer sua individualidade só contribuirá para o progresso das organizações. Isso pode ser feito com treinamentos, comissões de diversidade e inclusão, palestras, workshops e outros. É um caminho sem volta: empresas que não se adaptarem às demandas da sociedade contemporânea serão engolidas por elas.
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Ao decorrer do texto, você percebeu que empresas mais diversas apenas têm a somar para o bem-estar da comunidade e dos próprios funcionários. Discriminações e preconceitos podem gerar sérios danos à saúde mental das pessoas. Dessa forma, funcionários adoecidos emocionalmente precisam de suporte profissional para que, enfim, encontrem a paz necessária para que exerçam todos os seus talentos.
Gestores e líderes, para que o quadro de funcionários tenha uma qualidade de vida digna e consiga se desenvolver, devem ter sensibilidade para as questões emocionais. Se este é um assunto do seu interesse, saiba como o Portal da Mente pode contribuir na sua jornada em saúde mental.