Esgotamento crônico de uma mãe em crise

A maternidade pode ser um mundo cruel, injusto e bem diferente do que vemos nas redes sociais, mas a mulher não deve usá-las como parâmetro para que possa decidir seus projetos de vida. Aquele lugar da maternidade cor de rosa já há algum tempo vem sendo desbravado por mulheres que compartilham sobre a maternidade real.

De repente a menina se torna uma mulher e precisa construir uma família feliz, com marido e filhos, uma casinha linda com janelas azuis e uma felicidade irreal. Esse é o cenário perfeito para você? Para muitas não é e isso é completamente comum. A maternidade não precisa ser uma imposição e não deve se tornar uma necessidade apenas para cumprir normas e padrões impostos.

Muitas mulheres já assumem suas fragilidades e a falta do desejo de ser mãe. Isso não precisa ser um tabu e muito menos motivo de vergonha. A maternidade é uma fase complexa da vida da mulher, que exige muito de seu psicológico, físico e emocional, mas deve ser uma escolha dela passar ou não por esta experiência.

Mãe que influencia

Essa desconstrução do que é a maternidade e de como deve ou não ser a mãe moderna, se tornou pauta em muitos conteúdos online, norteando debates abertos sobre gestação, maternidade solo, aflições e medos, entre outros. A youtuber Helen Ramos, mais conhecida como “Hell Mother” discute sobre o tema em seu canal e fala diretamente para a mãe moderna, além de levantar a bandeira de que a maternidade não deve ser uma imposição, mas um desejo.

Eu amo meu filho, mas odeio a maternidade!

Assuntos como o esgotamento materno, a vida profissional no pós parto, o estereótipo da mãe moderna, bournout e a maternidade real –  bem distante das fotos bonitas do Instagram e dos sorrisos perfeitos em conteúdos do Facebook – são tratados em seu canal e em diversos conteúdos disponíveis online, como seu relato de parto no TEDxSãoPaulo.

Outras mães como a Helen também passam por diversidades quando se tornam mães e este é um período muito delicado, pois um turbilhão de emoções norteiam suas ações, pensamentos e reações. A realidade é que a maternidade tem seus altos e baixos, porém poucas são as mulheres que se sentem seguras para falar abertamente sobre isso, para pedir apoio nos momentos de caos.

Eu me sinto esgotada todos os dias. Vivo um misto de tristeza, insegurança, fragilidade, negação, abandono e sinto um vazio enorme. Tudo ficou mais difícil e agora eu não consigo mais me reconhecer, me ver como pessoa, apenas como cuidadora, como protetora, como mãe. Me perdi dentro de mim.

Profissional e mãe

O momento do retorno a vida profissional é um período complexo e cheio de insegurança para muitas mães. A amamentação se torna um desafio, o convívio familiar, a vida social e o ambiente corporativo, influenciam diretamente nas suas emoções e na forma como ocupa seu papel de mãe. Neste cenário muitas optam por se dedicar apenas aos filhos, mas a grande maioria não tem essa possibilidades, o que faz com que precisem conciliar todas as áreas e desempenha-las da melhor forma possível.

A pressão psicológica é muito grande. O seu desempenho parece sempre precisar estar acima dos demais, como compensação pelo novo título que ocupa. Neste período muitas mulheres desenvolvem o que chamamos de depressão pós parto ou bournout, como consequência do acumulo de funções e por muitas vezes pela culpa ao se ausentar dos cuidados com o bebê.

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é para que o aleitamento materno seja exclusivo durante os primeiros meses, mas que se estenda até os dois anos ou mais. Porém, de acordo com o Ministério da Saúde, 34% das mães com bebês menores de um ano, abandonam a amamentação para retornar ao mercado de trabalho.

A maternidade em filmes e séries

Não é de hoje que as mães estão presentes em conteúdos de filmes e séries, mas atualmente a maternidade tem sido tema central em muitos conteúdos, falando de forma aberta sobre aflições, medos e retratando a realidade do dia a dia de todos os tipos de mães.

Séries como Supermães (2017) e Turma do Peito (2017), os filmes como A filha perdida (2021), Perfeita é a mãe (2016), Como nossos pais (2017) e tantos outros, alcançaram uma audiência enorme, levando os assuntos tratados para conversas e debates sociais sobre a realidade da maternidade e os efeitos dessa fase na vida familiar e na saúde mental das mulheres.

Saúde mental na maternidade

Segundo estimativas do World Maternal Mental Health Day (WMMHD), sete em cada dez mulheres omitem ou escondem suas aflições e sintomas de instabilidade psicológica. A falta de apoio e compreensão impacta diretamente na saúde mental dessa mulher, nas emoções do bebê e na rotina familiar, por isso como forma de amenizar as reações, a mulher esconde o que sente e busca suprir as demandas que surgem ao longo do dia, tentando dar conta de tudo, mas acumulando sofrimento emocional.

Mommy Bornout

Após longos períodos de estresse e esgotamento emocional, a mulher pode vir a passar pelo bournout ou “Mommy Bournout como muitos conhecem. Para identificar esse estado, alguns sintomas precisam ser levados em consideração, assim como sua frequência e intensidade. São eles:

  • cansaço físico e mental constantes;
  • insônia ou sono excessivo;
  • se irrita facilmente;
  • sentimento de solidão e vazio;
  • desejo de se isolar;
  • sentimento de culpa e fracasso;
  • dores de cabeça constantes.

Ao identificar esses sintomas, a mulheres precisa procurar por ajuda profissional, de forma a reverter este quadro e retomar sua qualidade de vida. Se você identificar essas reações em mães próximas a você, busque oferecer apoio emocional e ajuda para amenizar seu cansaço.

Maternidade nas redes sociais

As redes sociais desenvolveram um poder, uma cobrança descabida, um julgamento cruel e maldoso sobre como a mulher exerce seu papel, quais funções ela deve ou não somar a maternidade e o sorriso no rosto é uma obrigação. Na necessidade de compartilharem uma vida “feliz” e desejada, muitas se esquecem de poderem sentir, ou mesmo perceberem o que estão sentindo.

Ninguém fala nada sobre o assassinato da qual a mulher é autora, a morte da pessoa que já foi um dia e o nascimento de uma sequência de obrigações que limitam seu tempo, sua paciência, sua atenção consigo mesma. Ela se anula, se esconde, se pune por pensamentos ruins com relação à maternidade e decide guardar seus sentimentos para si, como forma de lidar com suas emoções.

Como válvula de escape essa mãe vai às redes sociais procurar por alguém que se conecte com sua realidade, desabafar e entender essa fase tão difícil em sua vida, porém muitas vezes ela encontra uma barreira social, um mundo de opiniões e dedos apontados que tornam tudo ainda mais difícil. 

A vida online é tão incrível e perfeita, que a mulher passa a se enxergar como um erro, sentir que está desempenhando seu papel, de forma torta. Com isso começa a se fechar e tentar dar conta de tudo, ser mãe, esposa, dona de casa, profissional e ainda acumular outras funções: enfermeira, educadora, cozinheira, faxineira, motorista, recreadora, sem deixar de estar bela e sorridente ao final do dia. Os cabelos presos, o vídeo fechado das reuniões, a barriga do home não office, vão dando o contorno de sua insuficiência.

A maternidade virou um pesadelo!

Ela chora todos os dias, as dores de cabeça estão cada vez mais fortes, não dorme, não tem apetite, acumula tarefas e não aceita mais ajuda, quer sempre provar para si, provar para o outro que é capaz de fazer tudo e muito bem.

Antes mesmo de ser mãe em crise, essa mulher encontra incoerências na sua vida, como um ciclo vicioso, onde ela tenta cumprir padrões frustrantes, para criar outros indivíduos que seguem também padrões frustrantes em sua vida. Essa mulher precisa se ver como pessoa, como a Ana, Matilde, Roberta, Claudia e tantas outras, antes de ser “manhê”. Até mesmo para que não projete no seu filho a necessidade de ser um “projeto”, ou invés de ter uma história de vida. 

É preciso buscar ajuda, pedir suporte  aprender a delegar, buscando sua sanidade, sua harmonia interior, porque só dessa forma ela conseguirá se relacionar consigo com o outro e com sua vida, do jeito que ela puder, conseguir e quiser. No entanto, sem as máximas de fazer coros nas hashtags da militância digital, mas com uma apropriação verdadeira de sua vida emocional.

Ter medo é normal, fracassar é normal e ainda vai enfrentar muitas lutas, mas só você pode decidir quais serão realmente indispensáveis. E toda escolha implica em não ter seguido outro caminho naquele momento. Não queira se propor a ter filhos como resposta para alguém que não seja você própria. 

Cuidado com as armadilhas do rebanho de óvulos congelados, ou do filho a qualquer preço. Sempre pondere que existe um preço a pagar para cada escolha e não se pode achar que ter filhos seja igual a comprar uma roupa nova. Não vai ter uma mudança de coleção, ou receita pronta na internet. Será preciso que sua maternidade real acolha a mãe que nasceu com o filho. Somente os dois poderão encontrar as medidas que funcionam para esta relação.

Conclusão

A principal maneira de lidar com o esgotamento materno é buscar apoio e não tentar dar conta de tudo sozinha. A sobrecarga de funções e atividades compromete não só a saúde mental da mãe, mas sua relação familiar e o desenvolvimento do bebê. Fuja das comparações, delegue tarefas e filtre suas relações sociais, buscando o apoio de quem te faz bem, evitando se expor a estresse e situações depreciativas.

Busque apoio e tratamento mental para suas aflições e enfrente seus medos, mesmo que no inicio não pareça fácil.

Para te ajudar a encontrar um atendimento acolhedor e o apoio de que precisa, visite nossa página “Onde Buscar Ajuda“. Por lá mapeamos os locais de atendimento em saúde mental mais próximos de você, com base no Sistema Único de Saúde (SUS). Não tenha medo de pedir apoio!

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