Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata. Este é o tipo de câncer mais comum entre os homens, pois é a causa da morte de mais de 28% da população masculina.
A próstata localiza-se abaixo da bexiga e é uma glândula do sistema reprodutor do homem, que se assemelha a uma castanha. Sua principal função é, juntamente com as vesículas, a produção do esperma.
Essa doença que deixa em alerta a população de modo geral, relembra sua gravidade através da campanha Novembro Azul, que divulga e debate o assunto em diversos canais de comunicação por todo o país.
Porém, mesmo com dados tão alarmantes, boa parte dos homens ainda se mantém resistente quando o assunto é a sua saúde, muitas vezes negligenciando tratamentos e exames preventivos.
Mas por que tanta resistência?
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Centro de Referência em Saúde do Homem, 20% dos pacientes atendidos no Centro não permitiram que o exame de toque retal fosse realizado.
Lembrando que este exame se faz necessário para a identificação de sinais da doença na próstata, juntamente com o exame de sangue PSA, ambos fazem obrigatoriamente parte do procedimento de diagnóstico, recomendado a homens a partir dos 50 anos. No entanto, homens com casos de câncer de próstata na família devem iniciar este cuidado de forma mais precoce aos 45 anos.
Essa resistência se mostra apenas com relação ao exame de toque retal, o que coloca o preconceito como principal fator para o negligenciamento, com relação à prevenção do câncer de próstata.
Outra pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), mostra o quanto o preconceito persiste. Cerca de 32% dos entrevistados afirmaram já ter realizado o exame de toque retal, entretanto 47% ainda mostram resistência e afirmam ter feito apenas o PSA. Esse é um fator preocupante, já que o diagnóstico correto só é obtido através da realização dos dois exames em associação.
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A saúde mental masculina
Essa negligência com relação à saúde se estende à busca por tratamento em saúde mental também, que assume uma posição desconfortável para a grande maioria deles. Boa parte disso se dá a uma cultura machista que há tempos é fortemente creditada e repassada aos filhos, a ideia de que homens não demonstram sentimentos, não choram, precisam ser fortes e lidar com seus problemas internos sozinhos. Também, quanto ao lugar do homem forte e provedor que precisa proteger aos outros e não pode parar seu trabalho e cuidar da sua saúde.
Para muitos homens assumir suas fragilidades e se abrir para um tratamento emocional seria um forte demonstrativo de fraqueza. Por este motivo, muitos adotam vícios como a bebida, na tentativa de amenizar os sintomas de certos distúrbios, como a depressão e a ansiedade. Sendo que o alcoolismo masculino muitas vezes é percebido como uma “realidade” ao invés de “fatalidade” que pode ser cuidada, ou ao menos minimizada.
Estudos indicam que o principal fator para o homem ter uma boa saúde mental é a qualidade e manutenção de bons relacionamentos, saber lidar com suas frustrações dentro deles e tornar a sua saúde e os seus sentimentos uma das suas prioridades. Portanto, sair do lugar de imbatível para sua condição humana de carne e osso.
A maioria dos homens ainda têm vergonha de falar sobre suas frustrações e sentimentos, lidar com a saúde mental de forma natural e consequentemente deixam de alcançar uma vida com maior clareza dos seus sentimentos, relações menos adoecidas e com saúde física para poder envelhecer.
Por isso, a saúde mental masculina demanda muita atenção, precisa ser vista como algo emergente e a busca por tratamento e prevenção é indispensável, o que em muitos casos ocorre graças a intervenção de um familiar, que observa as alterações no comportamento e humor, assim como na rotina diária.
Aos que passaram a se isolar, a ficarem “bravos”, reagindo com violência, ou mesmo agressão física contra suas parceiras precisam compreender que podem estar adoecidos emocionalmente.
Como normalizar a saúde mental masculina?
Antes de mais nada é preciso ter em mente os objetivos dessa ajuda psicológica ou do psiquiatra, dos benefícios e da qualidade de vida que ela pode proporcionar, entender de verdade o impacto dos distúrbios emocionais na sua vida, para que o desejo de mudança e melhora seja espontâneo, assim os resultados serão ainda melhores.
Tenha em mente também que muitas situações de preconceito irão surgir, porque boa parte da sociedade ainda associa a terapia ao desequilíbrio mental, a “loucura feminina” como dizem. Mas é preciso voltar um passo e relembrar os motivos para acionar essa ajuda, afinal a sua felicidade, a sua qualidade de vida dependem disso.
Muitos homens passam sua vida proibidos de manifestar seus sentimentos e quando o fazem, sofrem preconceitos, viram motivo de piada entre os amigos e mesmo que o processo de desconstrução dessa cultura esteja em andamento, ainda há muita resistência por parte da sociedade. Piadas de si próprios, encobrem com humor suas dificuldades, sem muitas vezes conseguirem se dar conta do que realmente os faz bem.
A psicoterapia promove, independente do momento da vida, diversas alterações, ameniza ou cicatriza feridas abertas por muitos anos e reconecta o indivíduo com seus sentimentos. Alguns, até saem do automático do trabalho, comer e dormir, ou mesmo ter dinheiro para poderem assumir quais são seus desejos verdadeiros. Neste sentido, quem consegue atingir estas percepções pode obter uma melhor qualidade de vida.
Porém, para que esse processo de transformação ocorra de forma eficaz é preciso dar o primeiro passo e este sempre será o mais difícil. Muitos distúrbios são a consequência de frustrações, traumas e sentimentos repreendidos, que não são tratados. O medo desse enfrentamento limita a qualidade de vida e esconde fragilidades e incapacidades que podem ser trabalhadas. Não vamos pegar atalhos se não conhecemos os caminhos.
Muitos passam uma vida emocional de sofrimento para na maturidade, com seus 50 anos poderem se autorizar a serem. Aí já com suas conquistas financeiras, validados pelo trabalho e mais seguros se permitem sentir. No entanto, neste caminho podem ter se afastado de seus filhos, dos seus amigos ou pessoas que poderiam ter desenvolvido melhores relações.
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A busca por ajuda psicológica
Existem diversas formas de se buscar ajuda psicológica, seja ela presencial ou na modalidade online – uma forte tendência durante o período de quarentena. Particular ou gratuito, o acompanhamento psicológico é uma realidade possível para todas as pessoas e dar esse primeiro passo é mais fácil do que se imagina. Também, conforme a intensidade das emoções para o tratamento será necessário do suporte de um psiquiatra para poder atingir melhora ou alívio dos sintomas emocionais.
Busque por informações, indicação de profissionais e converse com sua família sobre essa necessidade, mesmo que isso não seja algo comum e importante para eles, pois esse é um tratamento ao qual você precisa passar e que fará bem para a sua saúde desde que você se permita
Diversas cidades e estados já oferecem atendimento psicológico acessível, o que facilita ainda mais sua busca por ajuda. Também aposte em atendimentos de forma online.
Um alerta aos que o travesseiro passou a torturar, o bar se transformou no melhor amigo, as roupas já não fecham e os pensamentos acusam que não vale a pena viver.
Muita atenção para que você não cultive sua cirrose, infarto, algum câncer, ou se envolva em algum acidente de trânsito, além de querer comprar uma arma, ou mesmo comece a cortejar em se matar, pois está com dívidas financeiras. Negocie com você a sua saúde e não se mate aos poucos.
Conclusão
Não tenha medo de cuidar de você, não permita que preconceitos e crenças limitantes afetem a sua vida e o seu bem estar. Cuide do seu corpo e da sua mente, eles são a sua maior prioridade. Sem isto não conseguirá viver o bastante para poder ver seus filhos crescerem, os netos brincarem, ou mesmo aproveitar do dinheiro que acumulou.
Para te ajudar nesta busca por apoio psicológico, mapeamos para você em nossa página “Onde Buscar Ajuda“, os locais mais próximos que fazem este atendimento ao público, tendo como base o Sistema Único de Saúde (SUS).
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