O medo limita nossas atitudes, ações, nos faz podar sonhos, crenças e emoções. Quando esse medo está presente em ambientes que até então nos pareciam seguros, criamos uma proteção interna e evitamos os gatilhos mais comuns. Deixamos de nos impor, reduzimos o volume da voz e com o tempo até mesmo nossas expressões tomam outras formas.
Mediante, uma aproximação indevida, alguns acabam ficando reativos e mesmo se utilizam da arrogância, ou mesmo maior reatividade para demarcarem uma reação a se sentirem assediados. Entretanto, antes de utilizar “assédio” para toda relação de hierarquia, antes precisamos saber qual nosso lugar e como podemos não ficar passivos.
Continue a leitura e saiba mais sobre como identificar e reagir a situações desconfortáveis no seu dia a dia.
Traçando limites seguros
O assédio pode vir de lugares que nem mesmo suspeitamos. Ele se esconde em sorrisos, palavras de carinho, abraços prolongados e amizades descabidas. Faz com que a vítima se culpe, se limite, deixe de se destacar, por medo da atenção, por medo de estar onde não deveria, atraindo o que nunca pediu. Se o crescimento tem se tornado ameaçador, a pessoa precisa antes se apropriar de quais desafios precisará ultrapassar antes internamente.
Silenciar-se pode ser compreendido como concordância. Uma reatividade agressiva pode ser enquadrada como desequilíbrio. E mesmo o abandono daquela situação pode ser vivenciado como um fracasso para alguns. Sempre, não se encolha perante você. Até para que possa deixar claro ali naquela situação de constrangimento que você não está atordoado com si mesmo.
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O cenário do assédio no Brasil
Segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, 26,5 milhões de brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de assédio no último ano, sejam comentários desrespeitosos na rua ou investidas indiscretas no trabalho. Muitas relatam que foram agarradas e beijadas a força em ambientes dos mais diversos.
A insegurança é um dos sentimentos mais comuns entre mulheres que já sofreram algum tipo de assédio. Há sempre o medo constante de que o ciclo venha a se repetir e todos a sua volta passam a assumir uma posição de perigo, criando um solo fértil para crises de pânico, ansiedade generalizada, entre outros transtornos, que comprometem o desempenho profissional e a vida social destas mulheres.
Como resultado desta realidade, o número de casos de feminicídio também é grande em nosso país. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, durante o período de pandemia o Brasil contabilizou um caso de feminicídio a cada seis horas e meia. Muitas mulheres afirmam que situações de violência e abusos sexuais ocorreram após investidas mal sucedidas e recusas ao interesse demonstrado, o que indica uma forte relação dos casos de assédio com o aumento do feminicídio.
Assédio no ambiente corporativo
Os ambientes profissionais são os mais indicados como propícios para situações de assédio e constrangimento. Muitas mulheres relatam que a questão de gênero é muito forte ainda dentro de diversas empresas, muitas vezes anulando seu lado profissional. As estruturas hierárquicas também contribuem para a cultura do assédio entre patrão e funcionária. Em muitos casos essa subordinação é a principal ferramenta utilizada para coibir, despertando um sentimento de incapacidade para com possíveis reações.
Muitas empresas estão aderindo a novas politicas e normas, a fim de reduzir e/ou impedir tais comportamentos. A contratação de equipes exclusivamente femininas também está cada vez mais comum, não só para lidar com problemas com assédio, mas para fortalecer lideranças femininas e relações mais leves e seguras para as mulheres.
Em outros casos, as empresas também buscam por assistência profissional, através de palestras e consultorias que abordem assuntos importantes como relações interpessoais dentro do ambiente profissional, e também os cuidados com a saúde mental, para lidar com conflitos e situações desgastantes do dia a dia.
Perceba o ambiente a sua volta
Procure ajuda profissional de um psicólogo, ou mesmo conforme a corporação, se procede entender se aquela pessoa já tem este histórico na sua rotina profissional deste padrão de comportamento. Em algumas situações, a não reação pode ser uma dificuldade sua de ser mais enfático e colocar limites. Em outros cenários sua fragilidade emocional, ou insegurança pode confundir e abrir espaço para não ser respeitado.
Quer dizer que além de assediado, também sou o responsável por isto ter acontecido comigo? Como tudo na vida, antes de apontar para fora, se aponte não para se condenar ou remoer, mas para poder ter mais profundidade nas suas relações de trabalho, ou mesmo nos cenários que demandam hierarquia.
No ambiente corporativo tem casos bizarros, aos montes, momentos inimagináveis que se tornam constantes e presentes todos os dias. Um abraço mais apertado, um sorriso malicioso, uma mão distraída, um contato inoportuno. Ações que ficam na lembrança, incomodam, magoam. Sem dúvida, antes de se condenar, olhe o todo e a relação daquela pessoa com outros colegas ou pares.
Quando essa situação acontece no âmbito familiar o embaraço é ainda maior. Afinal como se livrar, como interromper, como romper esse elo e não magoar outras pessoas? Como enfrentar os olhares de dúvida?
A arte imita os assédios da realidade
Essa realidade que em muito se confunde com cenas de filme ou capítulos de uma novela, pode se desenvolver dentro de ambientes familiares, profissionais, em escolas, círculos de amigos e até mesmo entre pessoas desconhecidas. Do mesmo modo, pode durar por dias, meses, anos ou por poucos minutos, mas deixa marcas permanentes, comprometendo a saúde mental e as relações ao longo da vida.
“Ele sabia que eu nunca podia contar a ninguém, sabia que eu me calaria por medo, por vergonha, por saber que ninguém acreditaria em tamanha crueldade. Com isso os eventos foram se repetindo, tornando- se mais incômodos e desrespeitosos. Algo dentro de mim mudou e eu guardei, mas guardar me fez pior ainda. Hoje eu penso nisso sempre e ninguém sabe, mas eu procuro essa lembrança quando não está, para que eu saiba sempre que a culpa é minha”
Relatos assim são cada vez mais comuns na vida de centenas ou milhares de mulheres. Séries e filmes já abordam o assunto com maestria, trazendo conflitos comuns do dia a dia e situações as quais devemos nos atentar e coibir. A série The Morning Show, veiculada pela plataforma Apple TV+ aborda os cenários corporativos mais comuns e a realidade de muitas relações profissionais, entre elas a cultura do assédio e da desigualdade de gênero em muitas áreas.
Reações do assédio
Abre-se espaço para a solidão, porque em muitos casos estar sozinha é muito mais fácil já que assim não é preciso arrumar desculpas, sorrir sem querer e manter-se desfocada. Quando se está sozinha com seus pensamentos, apenas a culpa te acompanha e por mais que você tente mudar o que sente, sabe que no final das contas você poderia ter mudado tudo, mas por fraqueza, nunca conseguiu.
Neste caso você precisa através de um tratamento, entender se aquela “fraqueza” foi por uma incapacidade sua de se defender ao longo da vida, ou mesmo, se está num momento de vulnerabilidade para aceitar “qualquer coisa”.
Importante ressaltar que quadros de depressão, fobia social, ansiedade, ou mesmo outros quadros psiquiátricos podem fazer a pessoa “achar” que vale menos e se subjugar em relações abusivas. Ao invés de silenciar-se você precisa antes saber de onde veio sua “suposta” fragilidade.
O mais importante é não usar a medida do assédio para poder construir suas relações. Procure ajuda de um profissional da saúde mental para poder ultrapassar de forma consistente suas dificuldades. Sem antes esquecer de ver as coisas em perspectiva e não seguir apenas opiniões prontas.
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Ajuda profissional
O medo tem um poder limitante que interfere nas reações mais lógicas e necessárias. Por conta disso, acabamos deixando que crenças limitantes e a insegurança nos obrigue a conviver com situações desgastantes e constrangedoras. Neste contexto, a ajuda de um profissional em saúde mental se mostra indispensável, principalmente quando por falta de uma reação negativa, a pessoa se veja em uma constante rotina de medo, vergonha e incapacidade.
Antes de mais nada, saiba que a culpa não é sua e que essas situações não são comuns, não devem ser tratadas com desprezo e medidas de cuidado devem ser tomadas para que não voltem a se repetir. Se reagir contra possíveis assédio é algo que te deixa desconfortável ou insegura, busque pelo apoio de outras pessoas.
Em nosso portal disponibilizamos para você uma área de Atendimento, para que você possa buscar por ajuda e apoio, sem julgamentos, limitações. Esse é um ambiente seguro e tranquilo que tem como objetivo te fortalecer para que possa abolir sentimentos de fracasso ou incapacidade de sua vida, reagindo a tais situações com assertividade.
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